Todos conhecemos os casos de falsos abandonos, quer como chamada de atenção, quer como instrumento de medição da importância que se terá no círculo de pertença. Desde personagens públicas, que protagonizam vários fins de carreira, aos episódios vários das vidas de anónimos cidadãos, é recorrente o fenómeno de desistências, partidas e pontos finais, que apenas têm por finalidade tentar revitalizar situações estagnadas, ou que mais não representam do que momentos menos bons dos que protagonizam essa milenar estratégia. Como fenómeno universal e antigo que é, não deixa de afectar, também, a blogosfera. É, portanto, legítimo, que, no último post, muitos dos que por aqui passem tenham querido ver uma mensagem de adeus, até porque o mesmo se prestava a essa leitura. Não era esse, contudo, o seu objectivo, pelo menos conscientemente não o era, apenas uma singela reflexão sobre como o passar dos anos nos vai esgotando a vida, quase sem darmos por isso. Um dia acordamos para essa realidade e percebemos, não sem um friozinho na espinha, que os horizontes temporais para que o mundo estabelece as suas metas do médio prazo estão já fora do nosso próprio prazo de validade. Assim, de mansinho, vivendo a espuma dos nossos dias, desperdiçando a sedução do nosso quotidiano, nos vamos despedindo de nós, e do mundo, a que, impropriamente, chamamos nosso.
Tudo isto, apenas para dizer que o crackdown não se despediu, não ensaiou uma saída de cena, não propiciou um encore. Teria este velho caderno de rascunhos de se levar a sério, ou, então, ter um elevado sentido de humor, para se dar ao ridículo de tais manobras. O crackdown limitou-se a preguiçar, talvez nostálgico, de certeza muito cansado, e podem crer que profundamente aborrecido com o espectáculo de puro e maçador ilusionismo em que se tornou a realidade portuguesa. Gozadas as férias, retemperadas as forças, espicaçada a moleza por alguns fait-divers, que poderão ter consequência, volta o bicharoco às lides blogueiras, para deitar conversa fora, como se merecesse a pena, para outro fim que não o prazer próprio de dar voz ao pensamento. Aos que perguntaram, aos que ralharam, aos que espicaçaram, aos que aceitaram, gostaria de dizer que, apesar de tal não se ter procurado, não deixou de ser muito reconfortante saber que a possível despedida do crackdown vos mereceu uns minutos de atenção. E como a vida é um permanente retorno, reencontramo-nos aqui, para mais dois dedos de conversa, ao sabor da brisa. "Sentindo-vos", ou não, é bom saber-vos por aí.
* Marguerite Yourcenar