«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Saturday, June 26, 2004
Retratos de família
O tio Eduardo, de semelhança gemelar com o seu grande amigo Eça, talvez por isso cultivou na família o estatuto de intelectual sofredor e bafiento. Com Eça subia o Chiado, à sombra deste cortejava mundanas e roliças mulheres casadas, estroinava em bebedeiras monumentais. Noites de copos e mulheres arruinaram-lhe os pulmões (chic, tossicava para lenços femininos), boa parte da fortuna do pai e (quase toda) da mulher. O menino escrevia, era jornalista; coitado, em vida nunca deu à estampa «obra» e o jornal, a pedido de amigos da família, emprestava-lhe uma mesa para escrevinhar perfumados bilhetes às amantes. Morreu novo, do coração. No escritório ficaram rolos de escritos pueris, que andaram anos pelas arcas da família, até que Otelinda, a criada da quinta, em dia de limpeza geral lhes deu sumiço. Deixou viúva nova, que num casamento feliz esqueceu depressa o presumível inspirador de uma qualquer personagem queirosiana, e a prima Alice, querubim loiro e angélico com lugar próprio na história da família.
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