Thursday, February 22, 2007

Haja Deus!

Imperdível, este jovem:
«O balanço que não vai ser escrito sobre dois anos de José Sócrates»
«Portugal entrou em choque tecnológico. O défice público está controlado nos 2,5%, a economia cresce a 3% ao ano e foram criados 150 mil novos empregos. Em suma: resultou a estratégia de aliviar a carga fiscal e, ao mesmo tempo, captar investimento estrangeiro que procure mão-de-obra barata. Portugal já não é o país mais pobre da União Europeia e tem recuperado lugares mês após mês.
E pronto. Agora tenho de sair a correr. Vou apanhar o TGV para a Ota para não perder o meu avião. »

Monday, February 19, 2007

Antologia

Entra la luz y asciendo torpemente
De los sueños al sueño compartido
Y las cosas recobran su debido
Y esperado lugar y en el presente

Converge abrumador y vasto el vago
Ayer: las seculares migraciones
Del pájaro y del hombre, las legiones
Que el hierro destrozó, Roma y Cartago.

Vuelve también la cotidiana historia:
Mi voz, mi rostro, mi temor, mi suerte.
¡Ah, si aquel otro despertar, la muerte,

Me deparara un tiempo sin memoria
De mi nombre y de todo lo que he sido!
¡Ah, si en esa mañana hubiera olvido!


Jorge Luis Borges

Sunday, February 18, 2007

Chapéus há muitos...

No meio da euforia da vitória do Sim e do anúncio do ministro da finanças de que o défice ficará abaixo dos 4,6%, a notícia de que o desemprego atingiu o valor mais alto dos últimos 20 anos passou como o governo gosta: de "mansinho", sem deixar marcas. Como passaram as notícias que dão conta de que os bolseiros de pós-doutoramento em ciência e tecnologia continuam há meses sem receber, ou que todos os que foram aceites em estágios na Administração Pública, e os estão a fazer, virão para a rua, no fim do estágio. Ah, e para que a diversão não esmoreça, as "estórias" do futebol continuam, agora com uma emergente coqueluche dos media a abrir processos, com velocidade estonteante, enquanto comenta resultados da bola para embasbacados, e deliciados, jornalistas. Neste jardim à beira pântano plantado, bem pode o governo tirar umas férias, para se preparar para a presidência da UE. Adormecido como anda o povão, com a socrática propaganda, nada se passará, neste paraíso socialista.

O corpo do delito

O resultado de uma vida de excentricidades e de excessos, pode ser a conclusão imediata e hollywoodesca para a morte de Anna Nicole Smith, numa suite de um hotel de luxo, mas uma razão bem mais prosaica deverá ter ditado a sorte da multimilionária herdeira e do seu filho mais velho. Miss Marple não deixaria de lembrar que será agora mais fácil calar, com uns trocados, a órfã de escassos meses, e o seu indeterminado papá. There is evil, under the sun.

Saturday, February 17, 2007

Gato escondido...

Imagem pedida emprestada a WEHAVEKAOSINTHEGARDEN, com a devida vénia ao sentido de humor.
Muito bem pergunta o Miguel Pinto, no seu OutrÒÓlhar:


«“As provas [globais] localmente construídas são localmente viciadas”, defendeu a ministra» [In: Sol – 17/02/07]

Ora, diga lá outra vez!?... Se as escolas viciam localmente as provas, também viciam localmente os concursos de professores, ou não?


Pois é, caro Miguel, não se esqueça que há duas linhas de pensamento naquela cabeça: cifrões e estatísticas. E a senhora é boa malabarista...


Privilégios

Crescer a chapinhar num mar assim, sonhando com aventuras para lá do horizonte, que demandaria num barquito de navegador solitário. Dormir no embalo das ondas, ver o sol a morrer no abraço do mar imenso, acordar na areia, com a faina dos pescadores, a correria das crianças de pés descalços, com o vento salgado no rosto. E acreditar que a vida seria feita de dias assim, ao sabor das ondas mansas, sob o calor do sol e a ternura da lua cúmplice. Ser feliz, tão feliz, que chegou para uma vida inteira.

Da distância

E da saudade.
O tempo pode ser implacável, enquanto o esquecimento não aplaca a dor.

Wednesday, February 14, 2007

Love Letter

I hold this letter in my hand
A plea, a petition, a kind of prayer
I hope it does as I have planned
Losing her again is more than I can bear
I kiss the cold, white envelope
I press my lips against her name
Two hundred words. We live in hope
The sky hangs heavy with rain

Love Letter Love Letter
Go get her Go get her
Love Letter Love Letter
Go tell her Go tell her

A wicked wind whips up the hill
A handful of hopeful words
I love her and I always will
The sky is ready to burst
Said something I did not mean to say
Said something I did not mean to say
Said something I did not mean to say
It all came out the wrong way

Love Letter Love letter
Go get her Go get her
Love Letter Love letter
Go tell her Go tell her

Rain your kisses down upon me
Rain your kisses down in storms
And for all who'll come before me
In your slowly fading forms
I'm going out of my mind
Will leave me standing in
The rain with a letter and a prayer
Whispered on the wind

Come back to me
Come back to me
O baby please come back to me


Nick Cave And The Bad Seeds



Tuesday, February 13, 2007

Os frutos de Baco

Se o 31 da Armada continua imperdível, o RMD começa a ficar como o vinho do Porto. Muito bem acompanhado por outras "castas" que por ali se cultivam.

Monday, February 12, 2007

«O amor não existe, só há provas de amor»*

Pouco se sabe ainda sobre este par, que permaneceu abraçado na morte, por mais de cinco mil anos. Podem nem ser dois amantes, mas apenas dois humanos que não deixaram que as circunstâncias da morte os separassem. Mas que, neste achado, se vence o que tem de macabro, face à poderosa mensagem romântica para que remete, é um facto. Quantos poetas e amantes não suspiraram por um amor assim?

* Pierre Reverdy

Por Deus!!!

Quando leio certos escritos, sobretudo na blogosfera, custa-me entender a extensão da raiva que algumas pessoas conseguem manifestar contra a Igreja Católica e seus representantes e seguidores, o radicalismo do seu discurso contra actos de fé dos crentes, a revolta que verbalizam contra aquilo que entendem ser o jugo da Igreja sobre o livre arbítrio de cada um. Tamanha é a sua paixão, que frequentemente tolda a razão destes pseudo-racionais da modernidade. Tornou-se, portanto, muito divertido ver associar o sismo de hoje a castigo divino sobre os portugueses que votaram sim. Querem exemplos? Com o devido apreço pelo talento blogueiro desta e desta senhora, são elas dois exemplos bem inesperados de como por trás de muita sanha há sempre alguma coisa mal resolvida! Por muito que queiram disfarçar a coisa com uma nota de humor. Como diria um ilustre professor da faculdade de medicina: é a sarna mental, senhores, e não há cura para a sarna mental!

Sunday, February 11, 2007

Antologia

Pode lá ser! Não quero, não consinto!
Tudo em mim se revolta: a carne, o instinto,
A minha mocidade, o meu amor,
A minha vida em flor!

É mentira! É mentira!
Se o meu filho respira,
Se o meu corpo consente,
Covardemente,
A minh'alma não quer!
Eu não quero ser mãe! Basta-me ser mulher!
Basta-me ser feliz!
E o meu instinto diz:
— "Acabou-se! Acabou-se! Agora renuncia:
Começa a tua noite: acabou-se o teu dia!
Tens vinte anos? Embora! A tua mocidade
Perdeu chama e calor, perdeu a própria idade.
Resigna-te. És mulher! Foi Deus que assim o quis.
Já foste flor: agora é só raiz." —
Não pode ser! É injusta a minha sorte!
Não quero dar vida a quem me traz a morte!
O meu destino há de ter outro brilho!
Vida, quero viver! E morro, morro...

Filho!
Pode lá ser, Jesus! Eu não mereço tanto!
Filho da minha dor, eu já não choro — canto!
Filho que Deus me deu! Por quê, Senhor,
Há só uma palavra: Amor, Amor, Amor?!
"Dai-me outra voz que nunca tenha dito
Coisas más, coisas vis... e que saiba a infinito...
Dai-me outro coração, mais puro, mais profundo,

Que o meu já se quebrou de encontro ao mundo...
Dai-me outro olhar que nunca tenha olhado,
Que não tenha presente nem passado...
Dai-me outras mãos, que as minhas já tocaram
A vida e a morte... o bem e o mal... e já pecaram...

Filho, por que seria? Ao vires para mim
Mudaste num jardim
Os espinhos da minha carne triste...
E como conseguiste
Dar uma cor de sol às horas mais sombrias?

Meu menino, dorme, dorme,
E deixa-me cantar
Para afastar
A vida, um papão enorme...
Meu menino, dorme, dorme...

Vamos agora brincar...
Que brinquedo, meu menino?
O mar, o céu, esta rua?
já te dei o meu destino,
Posso bem dar-te a Lua.

Toma um navio, um cavalo,
Toma agora o mar sem fundo...
Ainda achas pouco? Deixá-lo!
Se quiseres dou-te o mundo!
Mas por que não vens brincar?
Por que preferes chorar?
Jesus! Que tem o meu filho?
Que vida estranha no brilho
Do seu olhar?

Uma vida inquieta e obscura
Anda a queimar-lhe a frescura ...

Ainda hoje, meu filho, não sorriste
E o teu olhar é triste...
Cheiras a noite, a luto, a azebre ...

Senhor! O meu filho tem febre!
O seu hálito queima, o seu olhar escalda...
Ele que tinha um olhar de estrela ou de esmeralda
E um perfume de flor,
Agora tem na boca um amargo sabor
E cheira a noite, a luto, a azebre...

Senhor! O meu filho tem febre!
Tirai-me dos olhos toda a luz!
Livrai-me da blasfêmia... Deus! Jesus!
Pois se o meu filho morre, se agoniza,
Por que há flores no chão que ele não pisa?
Se num coval o hei de pôr, de rastros,
Por que estarão tão altos os astros?
Senhor, eu sou culpada. . . Eu sei o que é o pecado
Mas ele, meu Jesus, ainda não tem passado...
Para mim, não há mal que não aceite,
Mas ele, ainda tão perto do teu céu!
A sua vida era beber-me leite...
No olhar com que me olhava tinha um véu
De neblinas, de névoas de outras vidas...
As vezes, tinha as pálpebras descidas
E punha-se a chorar no meu regaço
Com saudades, talvez, do céu, do espaço...
O meu filho tem febre!
Por que andam a cantar pelos caminhos?
Por que há berços e ninhos?
Vida! O meu filho era belo,
O meu filho era forte!
Vida, que mãe és tu? Defende-me da morte!
Vida! Vida! Vida!

Louvado seja Deus! A morte foi-se embora!
Jà não tens febre agora!
Louvado seja Deus! O meu menino vive,
Este menino, o meu, que só eu tive!
E pude blasfemar!
E o meu menino chora, e eu posso já cantar!
E o meu menino canta e eu posso já chorar!
O meu menino vive e toda a vida canta,
Toda a terra é uma fresca e sonora garganta!
Que toda a gente o saiba e toda a terra o veja!
Louvado seja Deus!
Louvado seja!


Fernanda de Castro

Honi soit qui mal y pense


Referendo

A noite do referendo nas televisões trouxe-nos coisas espantosas. Percebemos que pouco mais de metade, de menos de metade dos eleitores, representam a inequívoca vontade do povo português. Ficámos a saber que o PS obteve mais uma grande vitória, e que as oposições continuam o seu ciclo de derrotas. Comprovámos que o ministro da saúde não abre o jogo das golpadas que se preparam, ou não está por dentro das jogadas. Sugeriram-nos que a estrondosa derrota da Igreja Católica deveria ter consequências (talvez umas fogueiras, quem sabe!). Até percebemos que, finalmente, demos o passo de gigante, que nos separava da modernidade. Será que agora poderemos falar de outra coisa? É que já não há pachorra!

Thursday, February 08, 2007

A nossa vida é o que damos*

A vitória do Sim à liberalização do aborto, da qual nunca duvidei, confirma-se na recta final da campanha. Para trás, ficam os abusos, de linguagem e de pensamento, que, em nome do bem, se cometeram, de um lado e do outro da barricada. Para a frente, perspectivam-se desvios às expectativas dos mais ingénuos; encargos de que, a prazo, os responsáveis governamentais se livrarão; uma progressiva opacidade na percepção das consciências sobre o valor da vida humana. Alguns chamar-lhe-ão avanço civilizacional, outros dirão o contrário. São tristes, estes tempos que nos calham viver, mas a vida merece sempre ser celebrada, em cada minuto que a possuímos. Como a dádiva, que é.
* Georges Séféri

Antologia

Now mind is clear
as a cloudless sky.
Time then to make a
home in wilderness.

What have I done but
wander with my eyes
in the trees? So I
will build: wife,
family, and seek
for neighbors.

Or I
perish of lonesomeness
or want of food or
lightning or the bear
(must tame the hart
and wear the bear).

And maybe make an image
of my wandering, a little
image—shrine by the
roadside to signify
to traveler that I live
here in the wilderness
awake and at home.


Allen Ginsberg

Menina de andar de linho/com um ribeiro à cintura...*

Rafal Olbinski
* Menina, de José Carlos Ary dos Santos. A recordar, nestes tempos em que tantos fazem um filho, sem ser por gosto...

Friday, February 02, 2007

Finalmente, boas perspectivas de ultrapassarmos a Espanha...

Com a nossa tradicional tendência para sermos os campeões das listas do pior, agravada pelo natural entusiasmo que vai seguir-se à liberalização do aborto, não passará uma década sem estarmos à frente dos nossos vizinhos no número de mulheres portuguesas que exercerão o seu direito de optar pela destruição do feto. Para os distraídos quanto ao bom negócio que é o aborto, convém recordar números conhecidos sobre o aborto em Espanha: «as estatísticas espanholas que indicam que em cada quatro minutos que passam desfaz-se um casamento e em cada sete minutos há um aborto - por dia há 207 e por ano há 80 mil abortos em Espanha». Sabendo-se o estado em que se encontra o nosso SNS, e a perspectiva do volume de negócio, investidores não faltarão.

Thursday, February 01, 2007

Perguntas de algibeira

Com a vitória do Sim inquestionavelmente assegurada, o que põe tão nervosos os defensores do aborto? Temem que a vitória não seja esmagadora?
E o que move António Costa a esconder, com tanto empenho, o day after dessa vitória da "barriga"?

O prémio

Consta, insistentemente, que será Maria de Lurdes Rodrigues a dirigir este organismo, o que permitirá a Sócrates encontrar uma saída mais do que airosa para a actual titular da pasta da educação.

Dos dias em que o mar, os livros e o sonho da distância eram tão cúmplices

Rafal Olbinski

Estranhamente, quando mais observo esta imagem, mais me recordo das minhas madrugadas de leitura, numa varanda sobre o mar, nos dias felizes da adolescência despreocupada e expectante. E, quanto mais o tempo passa, mais penso se, afinal, não será a expectativa que nos mantém jovens?


A cartola do Coelho

Coligação PS/PCP/BE se houver eleições na CML, propõe Jorge Coelho. Ora bem...

30 anos de Estatísticas da Educação

Dois volumes produzidos pelo GIASE, que pode consultar aqui e aqui.
Não estando em causa o interesse de uma iniciativa como esta, há, no entanto, dois aspectos que importa reter:o primeiro, tem a ver com a tradicional falta de dados estatísticos com que o ME sempre se debateu, e que é uma realidade que qualquer um dos ministros que por lá passou bem pode testemunhar; o segundo, e não menos importante, reside na conhecida habituação da actual ministra à manipulação de dados estatísticos, sendo relevante ter presente que quem assina este trabalho é um seu antigo colaborador destas lides. Não terá sido por acaso que, no final do II volume, se refere que «algumas lacunas existentes, em particular em anos lectivos mais recuados, foram colmatadas recorrendo a estimativas». Ninguém poderá dizer que não foi avisado, e as conclusões, essas, serão publicitadas de acordo com o que convier ao governo.

As novas caravelas

Estamos já tão habituados a desconfiar da propaganda do governo, que até nos custa ser optimistas com as boas notícias que sopram da China. Contudo, sabendo-se do interesse que a China tem em África, particularmente em Angola, parece verosímil a possibilidade de Sines se vir a tornar um porto estratégico para a entrada de produtos chineses na Europa, ao mesmo tempo que se potenciará o papel de Portugal, no contexto da sua posição no seio da UE, num hipotético eixo de cooperação luso-chinês com África. A concretizar-se este cenário, e mesmo que por ínvias rotas, teremos Portugal a retomar o caminho de África, sem voltar as costas à Europa, o que só poderá ser bom.

Negócios da China

O novo sistema operativo da Microsoft, o Windows Vista, lançado em todo o mundo com grande estrondo, já nasceu pirateado (dores de cabeça para o Bill Gates). Cópias ilegais vendiam-se hoje na China a 1 euro, pelo que se espera que Sócrates e Cª se tenham abastecido, para consumo próprio e distribuição aos amigos fiéis. Está explicada a razão da teimosia em não mudar as datas da visita de Estado!