Monday, March 06, 2006

Quando a cabeça não tem juízo...

Por princípio, nada tenho contra seguirem-se bons exemplos, ou aproveitarem-se e adaptarem-se experiências e modelos bem sucedidos. Infelizmente, nos últimos trinta anos, as sucessivas reformas do sistema educativo nacional alimentaram-se da importação do que se ía fazendo lá por fora, e cada uma delas era sempre apresentada como a mais garantida estratégia para uma rápida e eficaz superação dos nossos endémicos problemas. Os resultados falam por si mesmos.
Agora, é a aventura finlandesa, com os habituais entusiasmos e efeitos propagandísticos. Será apenas mais uma experiência? Teme-se que sim, deseja-se que não, porque, parafraseando o Variações, a escola é que paga.

8 comments:

Anonymous said...

Caro Crack, será mesmo seguir bons exemplos? Eu ainda não li, mas sei que chegou hoje à minha escola (e, portanto, às escolas do básico) um ofício a esclarecer que os alunos com plano de recuperação só podem reprovar em caso excepcional (creio que diz "em último caso")- a experiência para elevar o "sucesso" está é a consistir na estratégia do medo, os professores vão ter que fazer relatórios para chumbarem meninos, mesmo que dos planos de recuperação nem fazer os TPCs cumpram, para não falar dos que não têm plano e que se descobrem esta história... resolvem que podem entrar de férias porque em Fevereiro já estão aprovados. (Depois, os do 9º ano vão todos a exame e os resultados serão só culpa dos profs, claro) Confesso que, em 36 anos de ensino, nunca tinha vivido um ano lectivo... surrealista (falta-me termo melhor)

Anonymous said...

Chama-se a isso trabalhar para as estatísticas. Depois os meninos não sabem ler nem escrever, e querem ensinar-lhes filosofia.

«« said...

sabes, no copiar nem vejo muito mal, já que os nossos governantes dos últimos trinta anos demonstraram, que mais vale copiar mal, do que terem uma ideia nova (isso seria catastrófico). O que me irrita é que o tipo ande a mandar recados ao desbarato, aramdo em cientista da educação...pois, sabes a culpa foi dos professores que ele teve, que nunca lhe disseram que usa um espelho rachado...

Miguel Pinto said...

“A escola é que paga”
É um grande equívoco pensar que será a escola a pagar. Esta despesa será paga muito mais tarde, longe dos muros da escola… Longe desses muros, poucos se recordarão do nome do ministro da educação ou do primeiro-ministro que, por inacção ou por desnorte, lhes preparou o destino.

crack said...

Cara IC
Para quem já cá anda há uns anitos, temos que ter a honestidade intelectual de reconhecer que não é a primeira vez que se quer vestir a toga ao burro, isto é, arranjar todas as justificações para conseguir os resultados estatísticos que interessa mostrar, sem que isso represente mais do que um contínuo e progressivo abandalhamento do sistema de ensino.
Sabemos por que razão os alunos desrespeitam os professores e a escola, sabemos, a duras penas, o que custa carregar com turmas de alunos que não querem aprender, porque sabem que, no fim, lá acabarão por ser levados ao colo de um ano de escolaridade para outro.Mas, infelizmente, continuamos nesta senda de insucesso e desresponsabilização, sem sermos capazes de repensar, de uma vez, o nosso edifício educativo, que começámos pelo telhado e nele nos mantemos.
Há dias dizia-me um colega, bastante aflito, que mais de 80% dos alunos, em cada uma das suas três turmas de filosofia, não tinha, objectivamente, condições de passar a disciplina. No final do ano, tanto ele como eu sabemos que o resultado não vai ser esse. Este professor é daqueles que dá tudo por tudo para conseguir que os alunos aprendam, mas não é isso que está em causa, uma vez que sabemos que o resultado do seu meritório esforço não depende do mesmo, mas de destinatários que não o desejam, não o aceitam e não o retribuem. Poderá levar-se a mal que um professor menos responsável, menos motivado e mais cansado de ser sempre o bode espiatório cruze os braços? Eu lastimo que o faça, mas não posso dizer que não compreendo a atitude.

crack said...

Caro Luís, repensar a escola é já um chavão. Mas não poderemos mudar as coisas, se não formos capazes de deitar para o cesto dos papéis algumas das nossas velhas convicções e hábitos. Não me parece, contudo, que as "novidades" que vão saindo da 5 de Outubro sejam mais do novidades recicladas.

crack said...

Caro Miguel Sousa, até os artistas do copianço sabem que importa dar sempre um toque de originalidade à coisa!
:)

crack said...

Caro Miguel Pinto
Tem razão, sem dúvida. Mas o meu uso da expressão implicava um conceito muito amplo de escola - em primeiro lugar os alunos e suas famílias, professores, a própria organização escola, o sistema educativo.