Quando o Programa surgiu, devidamente enfeitado pelo carro de propaganda do governo Sócrates da maioria absoluta, "puxado" por um conjunto de "celebridades" de duvidosa isenção e ainda mais duvidoso discernimento na matéria, fui dos que desconfiou da valia e bondade de tão pouco pensada e ainda menos estruturada medida. Tresandava a mesma a efeito fácil e rápido, para cumprir mínimos estatísticos em Bruxelas e "encher o olho" aos pacóvios da terrinha. Mas, como nisto de formação, por aqui se acredita que (quase) toda a que vem é útil, lá se deu o benefício da dúvida, mas, coitado, este meu exercício de tolerância e expectativa foi rapidamente morto pela prática que se instalou no terreno.
Tendo tido contacto muito próximo com o projecto, através de pessoas que a ele deram o seu melhor, pessoas que, profissional e pessoalmente, muito respeito e prezo, depressa pude concluir que, efectivamente, na maioria dos casos as Novas Oportunidades não levantaram voo de práticas de oportunismo voraz, quer por parte das entidades formadoras que se constituiram para o efeito, quer por parte dos beneficiários deste "subsídio de reinserção educativa", distribuído à velocidade dos apetites numéricos dos inquilinos do ME, e embrulhado nas manifestações exteriores do sucesso exigido pelas agências de propaganda do governo. Dada a eficaz capacidade destas agências em tornarem opaca a realidade do Portugal socrático, não surpreendeu que pouco se tenha dito e escrito sobre o desperdício de dinheiros públicos que as Novas Oportunidades representam, quando analisado o real resultado do projecto para a formação de milhares de potenciais trabalhadores portugueses, resultado muito distante da promessa com que se enfeitara o mesmo, e que se pode resumir assim - é este upgrade educativo o passo de mágica para formar cidadãos mais cultos, mais capazes de intervir profissionalmente no tecido social português (e, quiçá, europeu), degrau quase directo para o patamar dos melhores empregos, maiores rendimentos profissionais e, cereja em cima do bolo, a porta de saída segura das malhas do desemprego.
Convém dizer aos mais crédulos que pouco importarão os relatórios de grupos de "peritos" nomeados para a "avaliação" do projecto, os quais serão, decerto, suficientemente suaves para que não tresande a porcaria do fundo deste pântano, ou não fosse cauteloso prevenir futuras estadas na 5 de Outubro, para já não dizer que seria desconfortável acordar memórias de passados pouco produtivos nesses corredores do poder. Queremos saber o que valem as Novas Oportunidades? Fale-se com empregadores, e eles riem-se na nossa cara do saber e do saber-fazer destes diplomados de aviário. Desconte-se a satisfação (legítima, porque terna e caridosa) das Marias e Manéis deste país, finalmente possuidores de "grau" de escolaridade, mas incapazes de soletrarem as notícias de rodapé nos telejornais que lhes contam as maravilhas do governo daquele senhor que tão bem sabe como é importante ter um diplomazinho, e temos uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma. Finalmente, Medina Carreira vem chamar os nomes à coisa, com o desassombro que lhe conhecemos: "[O programa] Novas Oportunidades é uma trafulhice de A a Z, é uma aldrabice. Eles [os alunos] não sabem nada, nada", (...) "fazem um papel, entregam ao professor e vão-se embora. E ao fim do ano, entregam-lhe um papel a dizer que têm o nono ano [de escolaridade]. Isto é tudo uma mentira, enquanto formos governados por mentirosos e incompetentes este país não tem solução". Pois não tem, não, enquanto responsabilidades e decisões de futuro forem repartidas entre conivências e conveniências dos habituais actores desta tragicomédia que é a governação em Portugal de Abril.
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