Os produtores de Hollywood costumam testar o êxito dos seus filmes estreando-os na província, para aferir as reacções do público. Por cá, o governo testa o nome da futura ministra da educação, deixando "escapar" para a comunicação social o seu nome, com as convenientes informações sobre o seu perfil, que nos querem vender. Compreende-se o estilo, nesta tragicomédia em que se transformou a acção governativa.
«Por meio da morte ou da doença, da pobreza ou da voz do dever, cada um de nós é forçado a aprender que o mundo não foi feito para nós e que, não importa quão belas as coisas que almejamos, o destino pode, não obstante, proibi-las.» Bertrand Russell
Wednesday, September 30, 2009
Tudo bons rapazes
Crescentemente impunes nas mais escuras manobras que caracterizam a sua acção política, nem Belém escapou à sua sede de poder absoluto.
Triste, triste, não é constatar que não se perfila no horizonte o fim deste estilo hardcore de fazer política. É perceber que só se acabará com o mal usando as mesmas armas. É pena.
Monday, September 28, 2009
Rescaldo eleitoral (II)
Apesar do relevante crescimento do BE, apesar da vitória do PS, Paulo Portas é o grande vencedor das legislativas 2009. Para aqueles que apenas encontram justificação para este sucesso do CDS no facto de o estilo "populista" do "Paulinho das feiras" se ajustar, como uma luva, a esta política reality show, é inquestionável que este bom resultado se estrutura mais em torno do excelente trabalho feito na oposição pelo partido contra os desmandos da maioria absoluta asfixiante que Sócrates impôs ao país, do que ao sound bite para as câmaras de televisão. Portas percebeu, cedo e bem, "o que estava a dar", usou as armas que melhor se adequavam, quer à sua queda para a política espectáculo, quer ao contraponto a Sócrates, mas sem nunca descurar um trabalho sério de oposição, apresentando propostas concretas, denunciando os abusos da governação e reclamando-se alternativa à mesma nas políticas que preconizou. Resultou. Agora, há que apurar o estilo, e o método! Na oposição.
Rescaldo eleitoral (I)
Os grandes derrotados foram aqueles que ainda não perceberam que a política é hoje the ultimate reality show on earth - os barões do PSD. Manuela Ferreira Leite corporizou a derrota de ontem. Como por aqui se escrevia há muito tempo, este não é o tempo certo para o estilo da senhora. É pena!
Monday, September 14, 2009
Penitência
Estive hoje numa aula de apresentação de um 6º ano de uma escola da zona de Lisboa. Há um tempo que não tinha o privilégio de assistir a um evento destes, sem que o mesmo estivesse "censurado" pela presença de individualidades governamentais, ou da administração educativa, naquele ritual propagandístico para os meios de comunicação social, a que já estamos habituados na abertura dos anos lectivos. Pode-se considerar que foi esta uma apresentação sem disfarces, natural, apenas com a presença da directora de turma, dos alunos e seus respectivos pais ou encarregados de educação. E tão à-vontade estava a professora, que a sessão resultou muito próxima do que deverão ser as aulas durante o ano lectivo - pela amostra, um autêntico desastre.
As informações e orientações da praxe foram saltitando da docente para os alunos sem qualquer ordem lógica, de forma incompleta e incoerente, incompreensíveis para os adultos presentes, quanto mais para as crianças de 11/12 anos que as deviam apreender, e cumprir. E os avisos, nas palavras da professora "muita" importantes, eram entremeados com os "ó pá" dirigidos aos rapazes da turma, mimoseados com comentários desastrados sobre o seu comportamento no ano anterior. "Miúdos" para cá, "miúdos" para lá, assim a senhora se referia, a torto e a direito, aos alunos, dirigindo-se aos pais destes com críticas ao comportamento anterior dos filhos, deixando explícito que mudanças para melhor nem ela as espera, nem os alunos delas serão capazes. Os sorrisos amarelos dos pais encavacados e a cabeça baixa dos alunos bastavam, mas não conseguiram suster a docente. Nesta, o vestuário, a postura, a falta de correcção linguística e a ausência do mais elementar bom senso deveriam, cada um por si e no seu conjunto, ser impeditivos de a colocar à frente de uma turma de alunos. E, apesar de tudo isto, nenhum de nós, pais e encarregados de educação, disse nada, ou a impediu de fazer a triste figura que fez, menos ainda estará disposto a exigir que os seus filhos e educandos não sejam alunos de tal exemplar. "Comemos" e calamos, mas depois reclamamos da educação que temos.
Ao ficar em silêncio hoje, como me senti conivente com Maria de Lurdes Rodrigues! Quantos pais ou encarregados de educação não estarão agora a sentir o mesmo? E, no entanto, o silêncio fez-se ouvir, continuará a fazer-se ouvir, um ano atrás de outro.
Somos todos culpados.
No rescaldo dos debates
Finda a série de conversas, que de debate de ideias tiveram pouco, a todos aqueles a quem não interessa o foguetório das opiniões de comentadores mais ou menos comprometidos, pouco de substantivo ficou digno de registo. De facto, relembra-se mais o superficial da mensagem dos actores em palco e as imagens que se retêm dos protagonistas desta ocasião, mas, nestes tempos em que o efeito televisivo determina o que existe, ou não existe, talvez seja apenas isso mesmo o que interessa. Tendo, portanto, em conta o "boneco" que a prestação televisiva permitiu a cada um criar, podemos concluir que o maior contributo dos debates para a campanha se ficou por uma maior definição das imagens dos lideres partidários.
Louçã e Jerónimo de Sousa fizeram o seu papel, cada vez mais fanático o primeiro, crescentemente genuíno e confortável nas suas limitações o segundo. Enquanto o BE aspira crescer o suficiente para manter acesa a chama messiânica de Louçã, o PCP luta por não ver cerceada a coerente obediência à sua circunstância. Não parece que possam ser, para já, a alavanca a um PS em queda, mas...
Paulo Portas, apesar de longe das suas melhores prestações televisivas (ou talvez por isso), conseguiu ser o melhor em todos os debates em que participou. Provavelmente não haverá cada vez mais gente a pensar como o CDS, quase de certeza que não irá haver muito mais gente a votar no CDS, mas é inegável que pode agora invocar o mérito de ter apresentado propostas e alternativas em áreas que o tempo demonstrou serem prioridades a que nenhum governo poderá fugir. Conseguiu tornar-se incontornável depois do dia 27?
Manuela Ferreira Leite conseguiu ser melhor do que se esperava, embora se esperasse muito pouco da sua capacidade de "vender" um PSD renovado. Antevia-se mesmo o seu colapso perante a habilidade, a experiência propagandística e a telegenia de Sócrates. Não aconteceu assim. Claro que foi igual a si própria, séria em demasia para estes tempos levezinhos da opção oportunista, assumidamente imperturbável no rumo traçado. No debate com Sócrates foi obrigada a uma atitude que lembra o adulto professor cheio de paciência perante as questões tontas de um aluno medíocre, imagem que não seria decerto a que mais lhe interessava passar, mas convenhamos que, com o seu perfil, não tinha alternativa perante um oponente que, de programa do PSD em punho, ridiculamente teimava em querer saber as razões, não do que nele consta, mas do que dele está ausente. Se a seriedade, a coragem da competência e o desassombro contassem na opção de voto, Ferreira Leite poderia considerar-se vencedora.
José Sócrates perdeu-se de si mesmo, escondido que foi, por inoportuno, o animal feroz e ainda mal adestrado na sua nova persona, misto de herói salvador impoluto, vítima sacrificada a injusto julgamento e simpático vizinho do lado em qualquer bairro suburbano. A verdade é que a sua imagem tresanda já a cadáver político, na boca e no olhar sente-se-lhe a derrota e, como com qualquer animal ferido, sabe-se que o tiro certeiro que o atingiu o matará, já aqui, ou uns tempos mais à frente. A vitória, a sorrir-lhe, será escasso remédio para esta morte anunciada.
Pelo que foram, e, principalmente, pelo que não foram, os debates contarão menos para as opções dos eleitores no dia 27 do que as circunstâncias e as teias de interesses destes. Ficam, sobretudo, para o acervo das televisões e para o currículo das pivots, com nota muito negativa para Judite de Sousa e elevado mérito para Clara de Sousa. C'est la vie!
Labels:
debates,
eleições,
manuela ferreira leite,
paulo portas,
socrates
Subscribe to:
Posts (Atom)