Monday, September 14, 2009

Penitência

Estive hoje numa aula de apresentação de um 6º ano de uma escola da zona de Lisboa. Há um tempo que não tinha o privilégio de assistir a um evento destes, sem que o mesmo estivesse "censurado" pela presença de individualidades governamentais, ou da administração educativa, naquele ritual propagandístico para os meios de comunicação social, a que já estamos habituados na abertura dos anos lectivos. Pode-se considerar que foi esta uma apresentação sem disfarces, natural, apenas com a presença da directora de turma, dos alunos e seus respectivos pais ou encarregados de educação. E tão à-vontade estava a professora, que a sessão resultou muito próxima do que deverão ser as aulas durante o ano lectivo - pela amostra, um autêntico desastre.
As informações e orientações da praxe foram saltitando da docente para os alunos sem qualquer ordem lógica, de forma incompleta e incoerente, incompreensíveis para os adultos presentes, quanto mais para as crianças de 11/12 anos que as deviam apreender, e cumprir. E os avisos, nas palavras da professora "muita" importantes, eram entremeados com os "ó pá" dirigidos aos rapazes da turma, mimoseados com comentários desastrados sobre o seu comportamento no ano anterior. "Miúdos" para cá, "miúdos" para lá, assim a senhora se referia, a torto e a direito, aos alunos, dirigindo-se aos pais destes com críticas ao comportamento anterior dos filhos, deixando explícito que mudanças para melhor nem ela as espera, nem os alunos delas serão capazes. Os sorrisos amarelos dos pais encavacados e a cabeça baixa dos alunos bastavam, mas não conseguiram suster a docente. Nesta, o vestuário, a postura, a falta de correcção linguística e a ausência do mais elementar bom senso deveriam, cada um por si e no seu conjunto, ser impeditivos de a colocar à frente de uma turma de alunos. E, apesar de tudo isto, nenhum de nós, pais e encarregados de educação, disse nada, ou a impediu de fazer a triste figura que fez, menos ainda estará disposto a exigir que os seus filhos e educandos não sejam alunos de tal exemplar. "Comemos" e calamos, mas depois reclamamos da educação que temos.
Ao ficar em silêncio hoje, como me senti conivente com Maria de Lurdes Rodrigues! Quantos pais ou encarregados de educação não estarão agora a sentir o mesmo? E, no entanto, o silêncio fez-se ouvir, continuará a fazer-se ouvir, um ano atrás de outro.
Somos todos culpados.

1 comment:

Anonymous said...

Caro Crack, vou citar o meu filho (agora com 31 anos) quando frequentava o 7º ano de escolaridade. Dizia ele indignado do alto dos seus 12 anos: "Mãe, há professores que dão erros, mas há outros que são um erro". A formação de professores está uma lástima e não se fala muito nisso. Não são os exames de acesso que é necessário introduzir, é o percurso de "formação" que urge alterar. Falo das ESEs. Acredita que há professores de Inglês que chegam "profissionalizados" à escola e nem sequer uma data sabem escrever? Para além de serem nulidades pedagógicas e didácticas...E muitos dos formadores fazem parte do clã MLR.

P.S. Já agora desculpe os meus erros nos últimos comentários. Já era muito tarde e estava muito cansada.

Lucinda Fialho