Saturday, December 30, 2006

Feliz Ano 2007

Em tempo de balanço, do melhor da blogosfera

Pelo que se escreve, mas, sobretudo, por tudo o que não se escreve.

Em tempo de balanço, do melhor da blogosfera

Cinco Dias

Em tempo de balanço, do melhor da blogosfera

4R - Quarta República
No limiar da utopia. Longe da anarquia mansa que nos tolhe.

Só para não desafiar os deuses...

... é que não digo que 2006 foi o pior ano da minha vida!

«A história é o incalculável impacto das circunstâncias sobre as utopias e os sonhos»*


Saddam - a morte, que acabará por tornar-se uma honra imerecida.
* Mariano Salas

Wednesday, December 27, 2006

Annus horribilis III

Annus horribilis II

Annus horribilis I

Antologia


O mais importante na vida
É ser-se criador – criar beleza.
Para isso,
É necessário pressenti-la
Aonde os nossos olhos não a virem.
Eu creio que sonhar o impossível
É como que ouvir uma voz de alguma coisa
Que pede existência e que nos chama de longe.
Sim, o mais importante na vida
É ser-se criador.
E para o impossível
Só devemos caminhar de olhos fechados
Como a fé e como o amor.
António Botto

Friday, December 22, 2006

Thursday, December 21, 2006

O ME deveria ter pedido pareceres jurídicos, prévios...

... mas essa não é a prática do governo, como o recente caso dos pareceres pedidos à posteriori, sobre a Lei das Finanças Locais, veio demonstrar. E como o ME não estudou bem todos os contornos jurídicos de que a sua decisão sobre as aulas de substituição se poderia revestir, agora foi condenado por dois tribunais, que mandaram pagar as aulas de substituição dadas. E ainda há quem diga que Maria de Lurdes Rodrigues sabe o que anda a fazer!

"não há presos políticos, mas políticos presos"

A frase é de Hugo Chávez. Poderia ter sido dita milhares de vezes, no passado do mundo. Não será desaproveitada por muitos, no futuro.

Em tempo de balanço, do melhor da blogosfera

A série 60s Crash Course, no ...bl-g--x-st-.

Wednesday, December 20, 2006

Órfão(s)

Com Joseph Barbera, desaparece o último dos doers* de uma época de diversão ingénua, e de absoluta fruição do humor apocalíptico* , através do desenho animado.
(* assume-se a re-utilização de conceitos abordados por JPP na reflexão referida no post anterior)

A não perder

No seu blog, José Pacheco Pereira introduz uma "apocalíptica" reflexão sobre o mundo do conhecimento na era digital, numa série de entradas (até agora,7) sob o título - PERGUNTAS ENTRE O ESPAÇO E O CIBERESPAÇO. A génese desta reflexão surge a propósito da sua participação no Seminário Creative Commons, na Universidade Católica, no passado dia 15 deste mês, mas, para quem teve o privilégio de aí o ouvir, a excelência destes textos sobrevaloriza-se, porque vêm preencher os cortes que, por questões de tempo, foi obrigado a fazer no auditório Cardeal Medeiros. De facto, se a keynote de Lawrence Lessig nos maravilha, tanto pela inovação do "produto" que nos apresenta, como pela novidade que ainda constitui a «forma muito plástica de interacção entre o que diz, sem papel nem texto e o que passa no écrã do fundo», sorte a nossa que os microfones de "peito" para a keynote de Pacheco Pereira não funcionaram e nos permitiram assistir à mais "apocalíptica" das mensagens, no mais tradicional dos figurinos - a riqueza da palavra, ao serviço das ideias, sem a distracção da imagem ou do gadget tecnológico.
Lawrence Lessig não esquecerá, facilmente, o que ouviu na UCP. Quanto a nós, será conveniente ficarmos atentos ao seu contributo para a regulação necessária à partilha do conhecimento na internet. As Creative Commons não são, de todo, uma inovação inútil.

Quem tudo quer abarcar, cedo quer acabar *

Será abusivo interrogarmo-nos se, ainda que inconscientemente, não estará ele a referir-se a Maria José Morgado?
* O inquérito da agressão a Ricardo Bexiga foi ontem formalmente avocado por Maria José Morgado - recentemente nomeada responsável pela equipa que vai centralizar a investigação ao caso Apito Dourado.

Tuesday, December 19, 2006

Confirmada a origem genética do autismo

Investigadores franceses descobriram o papel-chave de um gene sobre o cromossoma 22, em certas formas de autismo.
«Les chercheurs apportent ainsi de nouvelles pièces au complexe puzzle de l'autisme. Ces travaux sont publiés en avant-première sur le site de Nature Genetics. L'autisme ou plutôt les syndromes autistiques, dont les origines restent encore bien mystérieuses, ont longtemps été l'objet d'une guérilla entre les tenants du courant psychanalytique qui, sous l'impulsion de Bruno Bettelheim, mettaient sur le compte d'une mauvaise relation mère-enfant l'origine de ces difficultés et les scientifiques qui tentent de découvrir les anomalies de la maturation cérébrale impliquées dans ces troubles envahissants du développement. Parents et enfants ont longtemps fait les frais de ces deux approches si contradictoires. Aujourd'hui, après des décennies de discorde, les relations entre ces deux courants se sont en partie apaisées
A ler, no Le Figaro.fr.

E este governo continua a dizer que dá prioridade à formação e qualificação das pessoas...

Até ao início do próximo ano lectivo, cerca de 100 docentes da Universidade do Minho irão ser dispensados. A acrescentar a estes, sairão 60 funcionários, o que representará um corte de 20% nos quadros de pessoal daquela Universidade. A falta de alunos e os cortes orçamentais começam a justificar medidas como esta, como se esperava. Se bem que não é o maior número de docentes que, por si só, dá crédito a um estabelecimento de ensino superior, a verdade é que, com estes despedimentos, haverá projectos que, necessariamente, irão cair. É pena. Que, ao menos, haja um saudável princípio de salvaguarda da qualidade nos cortes que se venham a fazer.

Monday, December 18, 2006

Thursday, December 14, 2006

O mais eloquente de todos os sermões é o exemplo

Esteve muito bem Henrique de Freitas, ao demarcar-se do seu grupo parlamentar, por este ter recebido, onde e como o fez, os parlamentares europeus que investigam os voos da CIA. Melhor esteve Henrique de Freitas na atitude, e no (quase nada) que disse sobre o assunto. Lamenta-se a sua saída da vice-presidência do grupo parlamentar, onde, como este episódio evidencia, a sua serena forma de estar na política irá fazer falta.

Diana's second death

Para alívio de todos, 10 anos depois, o relatório de Lord Stevens conclui pela morte acidental de Diana de Gales.

Contributos para a reflexão sobre o aborto

Ainda o estudo da APF e os seus números, avassaladores.
Alegrem-se o que quiserem as guerreiras do Sim, estrebuchem o que entenderem as irredutíveis do Não, a verdade é que a imagem da mulher portuguesa que emerge deste estudo é profundamente penalizadora, por pôr em evidência comportamentos femininos imaturos e irresponsáveis, instabilidade afectiva e total desrespeito pelos direitos dos parceiros-pais.

Contributos para a reflexão sobre o aborto

Se serão muitas as interrogações que este estudo poderá deixar nas boas almas que se excitam, quer pelo sim, quer pelo não, com uma certeza ficamos, pelo menos. Há centenas de milhares de mulheres portuguesas que, entre os 18 e os 49 anos, ou sofrem de falta de atenção patológica, ou são incapazes de estabelecer relacionamentos afectivos estáveis, ou são totalmente incompetentes para identificarem, seleccionarem e utilizarem um dos muitos métodos anticoncepcionais existentes. Lá se vai pelo cano abaixo o mito da competência feminina! E, depois disto, venham daí as defensoras do género exigir igualdade de direitos no acesso a lugares de responsabilidade e chefia! Pois se nem a sua barriga conseguem "gerir" eficazmente...

Wednesday, December 13, 2006

L'Héritage de Marie-Antoinette

Ségolène Royal, une jolie femme, avec de belles jambes, un mari, quatre enfants et un amant.

Monday, December 11, 2006

Ainda, e mais uma vez, os privilégios dos professores

Segundo o Expresso do passado sábado, a PSP «registou em 2005/2006 um aumento de 15% de criminalidade nas áreas escolares, o que vem quebrar uma tendência de decréscimo que se vinha a registar nos últimos anos.»
Num ano lectivo, mais 40% de uso e posse de armas, mais 44% de uso e posse de estupefacientes, mais 40% de roubos, mais 30% de actos de vandalismo, mais 24% de agressões sexuais.
Se os números falam por si, e as situações também, alguém conseguirá explicar-me quais são os privilégios dos professores?

Portas trocadas

Os manos Portas vão gerindo o seu lugar ao Sol de uma forma que, só aparentemente, é uma sintonia imperfeita.
Esta semana, os seus contributos para a nossa cultura político-cinematográfica são exemplares daquilo para que servem os genes partilhados (esta ficou-me, da ESPAP), ou, na pior das hipóteses, o que pode resultar de um jantarinho em casa da mamã Helena.
Miguel, na página 28 do soalheiro semanário, traça o seu Sol à Esquerda ao ritmo e ao som do último Bond, confessando-se entusiasticamente rendido às novas roupagens e ao destemido estilo do mais famoso espião do Reino de Sua Majestade, e arredores (entusiasmo a que não será alheio Daniel Craig, mas, mais do que ficou escrito, só poderá ser dito pela mamã Helena...). Paulo, no seu lugar cativo da plateia da Tabu, troca o cinema com que, semanalmente, nos embala a veia Penelope Cruz, por umas tias espanholas, que, no tempo das idas a Badajoz pelos caramelos, lhe ensinaram o valor da peseta. De caminho, deixa a Franco o generalato e o seminário a Salazar, faz a apologia de Aznar e mostra os pés de barro de Zapatero, num mixed estilístico Almodóvar/Oliveira, da mais pura matriz ibérica.
É o Sol, sem nuvens.

ESPAP*

Na verdade, o esquema é o esperado - para acabar com o excesso de funcionários públicos cria-se a empresa pública necessária (?), na qual surgirão empregos com fartura, sim, mas só para aqueles amigos do primo do enteado do cunhado do ministro, que votam a condizer, e que, imbuídos da mais fiel subserviência aos interesses dos nossos governantes de opereta, vão cortar a esmo nos funcionários públicos, esses baldas sugadores das energias produtivas do Estado patrão, pobre vítima de tão vorazes e improdutivos seres.
Repetir o que se sabe - que a poupança é nenhuma, que o nepotismo espreita e o oportunismo engorda, que se substitui o monstro das bolachas pelo monstro dos chupa chupa...? nem vale a pena! Para os que ainda têm esperança que este possa ser o bom caminho para reestruturar a Administração Pública, recomenda-se que, se ainda o não fizeram, não deixem de escrever a sua cartinha ao Pai Natal. Pois ele existe...
*Empresa de Serviços Partilhados da Administração Pública (ocorreu-me agora que, como estes serviços são tão partilhados, os seus futuros quadros só podem ser totalmente preenchidos pelos mobilizados especiais da AP, não é verdade?)
Apre, que lá me caiu a auréola! O melhor mesmo é ir escrever a cartinha para o Pai Natal!

Wednesday, December 06, 2006

«Só a vida pode defender uma mensagem, não a palavra»*

No estudo «Políticas de Educação Básica, Desigualdades Sociais e Trajectórias Escolares», de investigadores do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), apresentado no Fórum de Pesquisas CIES (Centro de Investigação e Estudos de Sociologia) 2006, este ano dedicado às temáticas da «Sociedade do Conhecimento, Jovens e Educação», conclui-se que «o sistema de ensino em Portugal discrimina os alunos por escolas, por turmas e por vias de ensino, agravando os processos de desigualdade social».
Se esta conclusão não traz novidade, já nos surpreende saber que, de acordo com o mesmo estudo, no que diz respeito à violência nos estabelecimentos de ensino, as diferenças na origem social dos alunos deixam de ser significativas, uma vez que o fenómeno «não ocorre em mais quantidade nas escolas onde existe mais insucesso escolar ou com maior diversidade cultural e étnica». Não é exactamente esta a experiência recolhida no terreno, nem a qualidade dos equipamentos e a estabilidade do corpo docente e do conselho executivo, são os factores que, usualmente, emergem como «mais determinantes a nível da violência», como o mesmo estudo conclui. Este é um dos casos em que não basta a notícia, nitidamente ao serviço dos fins de alguns, mas em que importa conhecer o próprio estudo com origem no ISCTE (o que poderá não ser irrelevante). A acompanhar, sem dúvida.
* Veikko Koskenniemi

Para os que andam à volta com a TLEBS...

... não deixa de ter interesse este Rapport de mission sur l’enseignement de la grammaire. A ler.

Plano de Acção para a Integração das Pessoas com Deficiências ou Incapacidade? É para levar a sério?

Como escrevia aqui, a carência de técnicos em educação especial está a afectar um número significativo de alunos com patologias diversas, que estão sem o apoio de que necessitam.
Dados da Fenprof, recolhidos em 46% das escolas, dizem-nos que: «há 2322 estudantes - que podem ser cegos, surdos, disléxicos ou hiperactivos - que não estão a receber apoio na sala de aula.», ao que o ME contrapõe que «este é um levantamento que está errado e que pode nascer de uma confusão que é misturar as crianças com necessidades de apoio e as necessidades educativas especiais». Sabemos que esta confusão tem sido habitual, a começar na própria administração educativa, mas não podemos ignorar que o ministério da tutela nunca foi capaz de identificar uma e outra das situações, distingui-las e enquadrá-las, adequadamente. Enquanto o governo não for capaz de apresentar números, que demonstrem que identifica as situações existentes no terreno, não tem legitimidade para recusar a leitura que se faz da actual carência de apoios - cinco mil professores a menos, razões economicistas na génese desta falta de apoio especializado aos que dele mais precisam. Talvez que os técnicos de saúde que vão ser colocados nas escolas para fiscalizarem a dieta dos alunos sejam, também, capazes de dar uma ajudinha a estes casos!

Tuesday, December 05, 2006

Crise? Qual crise?

Em 2005, Portugal era o nono país com mais utilizadores de telefones móveis com banda larga, logo a seguir à Espanha e à França, e à frente da Austrália.

A boa moeda

No DN, de hoje:
«A redução da despesa pública com pessoal que o Governo se propõe fazer entre 2006 e 2007 é a maior desde 2000 nos doze países da Zona Euro, com excepção da Áustria, que num ano cortou 1,2 pontos percentuais. Se a análise for feita desde 2002, Portugal é mesmo o país que mais corta a fundo nos salários do Estado

Contributos para a reflexão sobre o aborto

Aborto por aspiração em feto de 10 semanas

No seu artigo no Público, intitulado "Em nome da mulher", Helena Matos escreve, a dado passo: «Se se reparar a discussão sobre a interrupção voluntária da gravidez é, em Portugal, uma discussão sobre o poder das mulheres. O debate em torno do aborto é exclusivamente sobre se o aborto pode ser feito 'a pedido da mulher'». Até aqui os homens já tinham chegado, quer os que com o facto sentem alívio, quer os que são vítimas desta realidade. Talvez tenham razão aqueles que defendem que, por ser assim, não devam ser chamados a votar em algo que não lhes diz respeito.


pontos nos ii


A partir do momento em que uma revista, de uma editora de livros escolares, se arrogava o direito de questionar as acções do governo em matéria educativa, o fim pressentia-se inevitável. Aconteceu agora, ao que parece como tudo acontece, neste tempo da nossa desilusão - sem qualquer respeito por aqueles que ainda acreditam que vivem numa democracia, que lhes garanta a liberdade de pensar fora das baias da propaganda governamental. Santana Castilho comentou o fim da revista, concluindo assim: «O clima de autoritarismo que a "esquerda moderna" introduziu na política incentiva vocações adormecidas de pequenos ditadores, sobretudo quando intuem que o seu negócio pode sofrer por enfrentarem quem manda. O equívoco foi mútuo: o Grupo Texto Editores pensou que nós íamos fazer a sua newsletter; nós pensámos que eles eram mais do que simples negociantes de livros escolares. Os métodos pidescos que escolheram são simples corolário destes tempos modernos». Sem que deixe de compreender a surpresa e mágoa do Professor, uma coisa é certa: já vimos demasiadas vezes este filme, para que possamos dar espaço à ingenuidade. Fica a lição.

Monday, December 04, 2006

Antologia

Can it be right to give what I can give?
To let thee sit beneath the fall of tears
As salt as mine, and hear the sighing years
Re-sighing on my lips renunciative
Through those infrequent smiles which fail to live
For all thy adjurations? O my fears,
That this can scarce be right! We are not peers,
So to be lovers; and I own, and grieve,
That givers of such gifts as mine are, must
Be counted with the ungenerous. Out, alas!
I will not soil thy purple with my dust,
Nor breathe my poison on thy Venice-glass,
Nor give thee any love--which were unjust.
Beloved, I only love thee! let it pass.


Sonnets from the Portuguese, by Elizabeth Barret Browning

Polonium-210

Um assassino discreto, eficaz e sofisticado, mas suficientemente notorious, para se concluir que quem o utilizou para matar Alexander Litvinenko não queria que o seu uso passasse despercebido. Porquê?

«A aparência das virtudes é muito mais sedutora do que as próprias virtudes...»*

A medida é uma boa medida? Será, mas não é isso que está em causa, apenas uma consistente impressão de que não deixa de pecar por excesso, num sistema fortemente carenciado de outros técnicos - especializados em educação especial, técnicos especiais, terapeutas, assistentes sociais, psicólogos...
Quando pensamos que temos jovens a precisarem, urgentemente, de apoio de técnicos em educação especial, que não chegam para as necessidades; quando a vivência em meio escolar sofre a erosão que todos constatamos, fortemente agravada pela inexistência de psicólogos e de assistentes sociais; quando os casos mais dramáticos que as escolas identificam, no domínio da alimentação, são os dos alunos que desmaiam de fome, por não terem o que comer em casa; quando, desde há muitos anos, são várias as cantinas e refeitórios escolares em que se disciplinam os consumos de guloseimas e se incentivam os bons hábitos alimentares; neste panorama, a medida parece de um oportunismo algo descarado, a reboque de uma opinião publicada, sem dúvida pertinente, mas exagerada, quando tantas outras necessidades, quiçá mais prementes, ficam sem resposta, perante a passividade do ME.
Como diria Coco Chanel, vestir os rotos é sempre uma obra de misericórdia, mesmo que seja apenas com um casaco de arminho, sobre os seus corpos nús. Nas escolas, onde tantos técnicos faltam, começamos por pagar aqueles que devem ensinar os alunos a comer, quem sabe se os outros não virão de brinde?
*Madame de Riccoboni

Lumière


Um eléctrico chamado desejo
Adaptado ao cinema por Elia Kazan, da peça do mesmo nome de Tenessee Williams, premiada em 1948 com o prémio Pulitzer, ganhou o Oscar de melhor filme em 1951, proporcionando ainda Oscares de melhor actriz a Vivien Leigh e de melhor actor secundário a Karl Malden. A estrela do filme foi, no entanto, Marlon Brando, aqui no auge da sua presença física, e a demonstrar as qualidades interpretativas, que a longa carreira subsequente viria a confirmar.
Para a história do filme ficam os cortes que o puritanismo americano da época impôs às cenas que abordavam a questão da homossexualidade, mas também o registo daquilo que alguns consideram, hoje, serem os primeiros sinais evidentes de loucura na expressão facial de Vivien Leigh.

Do mar e da memória



Lugela

Navio de carga, construído em 1926 pela Blohm & Voss, de Hamburgo, iniciou a sua carreira sob pavilhão alemão, com o nome de Dortmund. Foi posteriormente adquirido e registado pela Companhia Colonial de Navegação, em 1943, passando a fazer a carreira das colónias, como cargueiro com capacidade de alojamento para os seus 50 tripulantes e uma escassa dezena de passageiros, em cada viagem. Foi o primeiro navio mercante português accionado por turbinas a vapor, que lhe asseguravam a estonteante velocidade de 13 nós. Nos anos 60 do século XX ainda demandava os portos da África portuguesa.

Friday, November 24, 2006

Contributos para a reflexão sobre o aborto


Bebé oculto

Constitucionalidade do ECD?

Talvez, quem sabe?
Mas, na 5 de Outubro, será que existe alguém que se preocupa com essas minudências?

O inverno do nosso descontentamento

Chuva muito intensa, sempre houve. Inundações, também. Ventos, quedas de árvores, linhas férreas e estradas cortadas, não são novidade para ninguém. Sempre que estes alertas com cores de pimentos de importação desatam a disparar no alvoroço dos media, só dou comigo a pensar no bom que seria termos a protecção civil e as televisões mais interessadas no que verdadeiramente conta para o bem-estar das populações, e menos centradas no espectáculo criado pelas suas necessidades de auto-alimentação.

Entusiasmos a despropósito

Escreve João Pinto e Castro, num post em que comentou a entrevista do Presidente Cavaco: «A insegurança é sempre um perigo, ainda mais no titular do supremo cargo público da República.». Se nos lembrarmos do consulado de Jorge Sampaio, no qual ele se terá inspirado, não podemos deixar de reconhecer que Pinto e Castro tem muita razão.
Só que Cavaco não é Sampaio, e, sobre a entrevista do Presidente, é mais pertinente a análise de Luciano Amaral. E mais preocupante, também, até porque há bastantes indícios de que ele não está a ver mal a coisa.

Monday, November 20, 2006

Santana Castilho diz o que outros não disseram

«1. Nos últimos tempos disse-se, citando a OCDE e para os denegrir, que os professores portugueses eram dos mais bem pagos da Europa. O que permitiu a notícia, glosada até à náusea, foi um gráfico que se refere apenas aos professores do secundário com 15 anos de serviço, em função do PIB por habitante, que é dos mais baixos da Europa. Na mesma página, logo por cima do gráfico utilizado, está outro, bem mais relevante, que ordena os professores em função do valor absoluto do salário. E nesse, num total de 31 países estudados, os professores portugueses ocupam a 20.ª posição! Mas, sobre isto, nada se disse!
2. Disse-se, aludindo ao mesmo estafado indicador, que somos dos que mais gastamos com a educação. Mas não se disse o que importa: que o dinheiro efectivo gasto por aluno nos atira para a 23.ª posição entre os 33 países examinados e que, mesmo em relação ao PIB, estamos, afinal, num miserável 19.º lugar.
3. Disse-se que a prioridade das prioridades era a qualificação dos portugueses, mas não se disse como se concilia isso com o corte de 4,2 por cento na educação básica e secundária e 8,2 por cento no ensino superior. Como tão-pouco se disse, do mesmo passo, que os subsídios pagos pelo Estado a alguns colégios privados cresceram exponencialmente, de 71 a 108 por cento, como se retira da matéria publicada no DR de 16 de Outubro!
4. Disse-se, ainda, alto e bom som, que os funcionários do Estado estavam mais bem pagos que os privados. Mas não se disse que um estudo encomendado pelo Ministério das Finanças a uma consultora internacional (é moda agora adjudicar a consultoras externas e pagar-lhes a peso de ouro aquilo que os técnicos dos serviços sabem fazer) concluiu, e por isso foi silenciado, que os funcionários públicos ganham, em média, muito menos do que ganhariam se fizessem o mesmo trabalho para um patrão privado. E estamos a falar de diferenças que são, diz o estudo, de 30, 50, 70 ou mais que 100 por cento, em desfavor do funcionalismo público. Isto não se disse! As cerca de 300 páginas deste estudo estão, prudentemente, silenciadas na gaveta de Teixeira dos Santos.
5. Igualmente silenciados, porque não convém que se diga, estão os dados do Eurostat que mostram a inutilidade das medidas da ministra da Educação para a área: o abandono escolar precoce passou dos 38,6 por cento do ano passado para os 40 por cento deste ano, enquanto diminuiu por toda a Europa

Sunday, November 19, 2006

Lumière

M

Realizado em 1931, por Fritz Lang, M é considerado por muitos a sua obra-prima, apesar do reconhecimento generalizado por outras obras do realizador, como Metropolis, o filme que antecedeu este, ou o Testamento do Dr. Mabuse, que filmou imediatamente a seguir.

M narra a perseguição da polícia e do próprio submundo do crime a um psicopata assassino de crianças, e é o primeiro grande papel de Peter Lorre (1904-1964), um actor nascido na Hungria, mas que iniciou a sua carreira na Alemanha e na Áustria, mudando-se primeiro para Inglaterra, e depois para os Estados Unidos, para fugir ao nazismo. Com um tipo físico muito característico, os olhos salientes, a voz rouca e uma cara perturbantemente ingénua, a sua insuperável performance em M marcou-lhe toda a carreira, especializando-se em filmes negros e papéis de personagens inquietantes. Será recordado ainda pelos seus pequenos, mas marcantes, papéis secundários n'O Falcão de Malta e Casablanca, antes de a sua carreira ter entrado em declínio, na década de 50.

Saturday, November 18, 2006

Do mar e da memória

Pátria
Paquete construído em 1947, pela John Brown & Ca. Ld., assegurava carreiras regulares para a África portuguesa, ao serviço da Companhia Colonial de Navegação. Transportando cerca de 800 passageiros, era, na primeira metade dos anos 50, um dos maiores e mais rápidos paquetes portugueses, juntamente com o seu "gémeo", Império. Saiu de serviço em 1973.

Thursday, November 16, 2006

«Teu corpo é tudo o que brilha/Teu corpo é tudo o que cheira...»*


No caso da modelo espanhola Ester Cañadas, a transfiguração a que se submeteu, e que resulta evidente nestas fotos, teve como resultado um salto qualitativo na sua carreira internacional, e engordou a agenda de médicos e clínicas, que efectuam aumento dos lábios. Infelizmente, esta ânsia pela imagem que mais "vende", esta escravidão aos ditames da moda, que se vem generalizando a uma velocidade preocupante, nem sempre tem um final feliz. Já esta semana, a anorexia matou uma modelo brasileira, de 21 anos, mais uma vítima de padrões estéticos impostos pela indústria da moda, mas que estão hoje perfeitamente assimilados pelas nossas sociedades modernas, com nefastas consequências, sobretudo na população abaixo dos trinta anos. É tempo de remar contra esta tendência, como fez o município de Madrid.
*Manoel Bandeira

Voltar o feitiço contra o feiticeiro

Invoca a DREL, que "Estas práticas têm um efeito muito prejudicial na vivência da escola e promovem modelos de comportamento claramente negativos para a formação de crianças e jovens, enquanto pessoas e enquanto cidadãos".
Não percebo as críticas, que logo se fizeram ouvir, contra esta atitude firme da DREL, uma vez que mais não faz, do que remeter para a polícia casos que são de polícia. Agora, aberto o precedente, e muito bem, o que se exige é que este princípio se torne no procedimento recomendado às escolas para TODOS os actos dos alunos que são prejudiciais à «vivência da escola e promovem modelos de comportamento claramente negativos», como, por exemplo: agressões a colegas, professores e funcionários; actos de vandalismo contra as instalações escolares; assédio e actos de violência sexual sobre colegas; ameaças e extorsões; porte de armas, brancas e de fogo, e agressões com as mesmas, etc, etc...
Cada vez mais me convenço que as escolas e a classe docente não estão a ser capazes de usar, a seu favor, com celeridade e eficácia, as crispações desta ministra.

A fantasia é a mãe da satisfação, do humor, da arte de viver
Herman Hesse

Wednesday, November 15, 2006

Ainda a TLEBS

O título é do artigo de Vasco Graça Moura, no DN. Nele, aborda as várias áreas de problemas, que tão sofisticada terminologia linguística vem criar, não esquecendo como este será mais um bloqueio à aprendizagem e utilização do português em países do espaço lusófono. A este respeito, escreve ele: «considere-se a cooperação com os PALOP. Em África, onde o português é uma língua veicular, as estruturas do ensino são frágeis, os professores são poucos, a preparação pedagógica é deficiente, os livros são difíceis de obter e, muitas vezes, os instrumentos imprescindíveis de trabalho nesta matéria são aproveitamentos de materiais que já não são utilizados em Portugal. E onde, conforme as áreas da latinofonia ou da anglofonia, há uma grande concorrência de outras línguas europeias com a nossa. Já se pensou na trapalhada sem nome que a TLEBS ali vai gerar? Na confusão indescritível em que professores e alunos africanos vão ser lançados? Nos custos editoriais desnecessários em que as autoridades desses países terão de incorrer? As coisas anunciam-se de tal modo perturbantes que se acabará por desejar que, a bem da língua, a cooperação quanto ao ensino do português em África seja confiá-lo a professores brasileiros... » Pois é, assim se contribui para a divulgação e presença da língua e da cultura portuguesa em África!

«All things are artificial, for nature is the art of God.»*



Rafal Olbinsky

* Sir Thomas Browne

O TC aprovou o referendo ao aborto

Ao que dizem algumas línguas viperinas, há uns "ilustres" do PS, com interesses em clínicas especializadas em abortos, que já andam a fazer contas. Há gente muito mal intencionada...

Carmona Rodrigues rompeu a coligação na CML

Zangaram-se as comadres. Será que se descobrirão as verdades?

A ler

No Le Monde: «Les tentatives manquées de réformer le temps de service des professeurs».

«As suspeitas são entre os pensamentos o que os morcegos são entre os pássaros; voam sempre ao crepúsculo.»*

«Os estabelecimentos de ensino vão poder dar início, já a partir de Janeiro, a processos autónomos de recrutamento de docentes, com quem estabelecerão contratos individuais de trabalho.» Sendo esta uma boa decisão do ME, é caso para perguntar a razão que leva os sindicatos da educação a verem nesta transferência de competências para as escolas apenas riscos de «amiguismo e compadrio». Coitados dos professores, não lhes bastava uma ministra que constantemente os desconsidera, tinham de ter também representantes da própria classe a passar-lhes atestados de incompetência e venalidade.
* Francis Bacon

Cada corte tem o seu bobo

PSL voltou, e disse. Melhor faria ter ficado calado, mas, em verdade se diga, o bom senso nunca foi o seu forte.

Monday, November 13, 2006

À conta dos acordos com o MIT, o ministro da tutela, Mariano Gago, não parece preocupado com o desinteresse dos empregadores, que considera passageiro, mas a verdade é que largas centenas de jovens não encontram outra saída profissional, que não seja a renovação das bolsas. Claro que o que o ministro não diz, mas sabe, é que a maioria destes bolseiros deveriam ter já perdido essa qualidade e estarem a exercer as funções que exercem com contratos de trabalho, porque não estão em período de aprendizagem, mas a executar «funções científicas e técnicas especializadas, que de outra maneira não poderiam ser realizadas nessas instituições». Mais grave ainda, o caso de muitos bolseiros em ciência e tecnologia que exercem funções de natureza puramente técnica, em serviços do MCTES, para colmatarem a falta de pessoal técnico e técnico superior, nos respectivos quadros.
Convém lembrar que este problema foi criado pelo mesmo ministro, na sua anterior passagem pelo governo. Convém ter presente que, apesar da sua responsabilidade política, neste problema, Mariano Gago nada fez, até agora, para o resolver. Convém tirar deste exemplo uma lição - serão muitos, e graves, os problemas com que este país se irá deparar, quando, esgotado o seu ciclo e desfeito o véu da propaganda, o PS deixar atrás de si as consequências do que, efectivamente, vem fazendo.

Mentira e (in)consequência

José Sócrates tem vindo a dizer, e reafirmou-o no seu discurso de encerramento do Congresso do PS, que o seu governo vai dar prioridade à formação e qualificação das pessoas, o que, segundo as suas palavras, é a melhor aposta para tirar Portugal do atraso de desenvolvimento em que se encontra. Este discurso flui com as marcas da determinação de Sócrates, resulta bem nos media, entusiasma o público, mas, quando se apagam as luzes da ribalta, fica-se por aí, em termos de resultados práticos.
A desmentir este discurso de intenções, feito para o soundbyte, vamos sabendo: que os alunos do 1º ciclo estão em risco de não terem os tão propagandeados prolongamentos de horário, porque não há verbas orçamentadas para tal; que a educação especial definha à míngua de recursos alocados à mesma; que o programa de apoio à matemática sofre de anorexia financeira; que metade das universidades e vários politécnicos não têm dinheiro para pagar a professores, e muito menos para contratar professores para preencher os quadros, apesar de estes estarem a 64% de ocupação.
Está difícil descortinar a prioridade...

Sunday, November 12, 2006

O Congresso do PS

Muitos casamentos de conveniência, divórcios inevitáveis, um funeral - o do Partido Socialista, e um nascimento - o do Partido de Sócrates.
Nunca mais esta esquerda será a mesma.

Lumière

La Belle que voilà

Realizado em 1949 por Jean-Paul Le Chanois, conta, bem ao gosto francês, a história dramática de uma bailarina envolvida num triângulo de desejo, paixão e ciúme. De notável, a presença da que se tornaria uma das grandes damas do cinema francês, Michèle Morgan, aqui a contracenar com o que foi o seu segundo marido, Henri Vidal. Michèle, senhora de uma beleza clássica e imponente, trabalhou com alguns dos mais prestigiados realizadores das décadas de 40, 50 e 60, tanto em França, como em Hollywood. Após uma carreira de sucesso, dedicou-se à pintura e ao desenho de gravatas. Os seus magníficos olhos verdes, eternizados na tela, deram-lhe o mote para a autobiografia, «Avec ces yeux-là».

Do mar e da memória


Quanza
Navio misto, de carga e passageiros, construído por Blohm & Voss, em 1929, para a Companhia Nacional de Navegação. Manteve-se ao serviço, na carreira de África, até 1968.

Friday, November 10, 2006

Autoridade à deriva

Por cá, discutiu-se, timidamente, o bullying; em Valência, debateu-se, com coragem, o espaço de convivência entre a família e a escola. Nos dois casos, ficaram patentes os dois vértices de um problema, que aflige um número crescente de alunos, desorganiza o espaço escolar e prejudica as aprendizagens - a indisciplina/violência em meio escolar e a falta de autoridade dos pais.
A percepção, pela sociedade e, sobretudo, pelos decisores políticos, de que a violência em meio escolar não pode ser desligada da responsabilização das famílias, ajudará as escolas a exigirem, e obterem, os meios adequados para poderem enfrentar, com uma razoável margem de sucesso, o problema.
A aceitação de que as questões associadas à violência em meio escolar requerem uma atitude de aberta e descomplexada abordagem, por todas as partes envolvidas no processo educativo, centrando no reforço da autoridade dos professores a solução para o problema, é já uma realidade na maioria dos países. Ora, também neste domínio, os professores portugueses estão seriamente prejudicados pelo discurso da tutela, que lhes mina a autoridade e lhes restringe a margem de actuação, enquanto, infelizmente, os representantes da classe se têm deixado encostar "às tábuas" da discussão do Estatuto (assim servindo os interesses desta ministra), ignorando a necessidade de dar visibilidade, e trazer ao debate público, esta questão, tão determinante para o bom funcionamento das escolas, quanto para um desempenho eficiente e eficaz da actividade docente.

Um assombro??? Freud explicaria...

Quem diria, que o João Pinto e Castro gastava o seu tempo a imaginar tais coisas, e sempre!

A ler

«Eleições americanas: triunfo do proteccionismo? », por Tavares Moreira, no 4R - Quarta República.
«Understanding Gates», por James Mann, no Washington Post.

Tuesday, November 07, 2006

Une nouvelle approche pour combattre la dyslexie

Título de um artigo no Le Monde, que foca o trabalho do professor Orlando Alves da Silva, no domínio da dislexia.
«...dyslexie. Un trouble spécifique de la lecture et de l'écriture qui touche de 5 % à 10 % des enfants et leur fait confondre les lettres, handicapant gravement leur scolarité.C'est dire l'espoir que présente dans ce domaine toute innovation médicale. Comme celle, par exemple, du professeur Orlando Alves da Silva, chef du service d'ophtalmologie de l'hôpital universitaire de Lisbonne. Depuis plus de vingt ans, ce médecin affirme que les enfants dyslexiques n'ont pas seulement des difficultés de lecture, mais présentent également des troubles de la proprioception, sorte de "sixième sens" grâce auquel nous avons conscience de notre posture

Dificuldades no ensino superior politécnico

Sendo o Ministério de Mariano Gago o que mais lucra no OE de 2007, a situação não se compreende, a não ser pelo facto de o ministro se esquecer, frequentemente, que tutela, também, o ensino superior.

Boa decisão

As escolas estão autorizadas a decidirem sobre obras a efectuar, até 4500€.
É mais um peso que sai de cima dos ombros da administração educativa, mas há uma inegável vantagem para todas as partes envolvidas.

Monday, November 06, 2006

A condenação à morte de Saddam

O que choca é o cinismo de algumas reacções.

Negociação suplementar do ECD

Um nado-morto.

A eficiência da ministra da educação

No DN dá-se hoje honras de 1ª página à situação criada por mais uma das argoladas da equipa da educação - os pais estão a ser chamados a pagarem os prolongamentos de horário nas escolas do 1º ciclo, porque os montantes orçamentados pelo ME foram trabalhados em cima do joelho, isto é, acabaram revelando-se curtos. Note-se que, apesar de tudo, há uma enorme benevolência da minha parte, ao atribuir esta falha a um erro técnico, porque, se esta foi intencional, então, para além da incompetência, estará algo muito pior em causa.
Aceitando que se trata de um erro, mais um dos muitos desta ministra, pergunta-se: o que lucraram os clientes do sistema com a imposição deste prolongamento de horário, imposto a ferros por uma ministra autista, surda a todo o aconselhamento, que lhe parecesse minimamente contrário à sua sanha em castigar professores? Para que se desmantelaram estruturas, que respondiam, com eficácia, às necessidades das famílias? Quem prestará, agora, contas do insucesso de mais este golpe de mau génio da ministra?
Há muito tempo que os professores, e muitas direcções de escolas, alertam para que, entre o que a propaganda do governo nos quer fazer acreditar que está a ser levado a cabo como acções de melhoria na educação, e a realidade, vai um passo de gigante, mas só a evidência dos erros poderá desmontar, de vez, a enorme mistificação de que o sector está a ser vítima. Demorou, ainda vai levar mais tempo, mas a verdade não poderá deixar de vir ao de cima. Será, contudo, demasiado tarde. Já hoje é, aliás. Talvez por saber isso, Sócrates não se importe de manter tudo como está.

Friday, November 03, 2006

"Passam aqui uns rios" *

Num elucidativo artigo, em que evidencia as enormes dificuldades que os transeuntes lisboetas enfrentam, de cada vez que chove, Fernanda Câncio remata assim: «como mandar parar de chover pode não ser uma opção, talvez resulte pensar um bocadinho a cidade para quem nela caminha e para quem nela se desloca de transportes públicos, em vez de concentrar todas as prioridades no fluxo dos que a vêem passar da janela do automóvel. Quando se exortam os cidadãos a prescindir do transporte individual em nome da salvação, já não da pátria, mas do mundo, é capaz de ser boa ideia não fazer disso um martírio.» Nem mais!
* Artigo de opinião no DN, por Fernanda Câncio

O domínio da sentimentalidade, ou como crescer em sabedoria

«...arrumar a papelada é sempre uma viagem ao passado e um reviver das recordações através de bocadinhos de papel. E é sempre um exercício de domínio da sentimentalidade, porque só fica o que é importante e útil. Tudo o resto vai embora, para dar espaço aos novos papéis e fragmentos dos dias por vir!» - Some Like it Hot.

Thursday, November 02, 2006

We have kaos in the garden*



"Esta bruxa tem percorrido o jardim a distribuir maças vermelhas envenenadas por professores, alunos e pais. Tenham medo, muito medo." - Aqui.

* Pode questionar-se o bom gosto, mas não o sentido de oportunidade e o humor, que, frequentemente, está presente nas "figurinhas" deste blog.

Tuesday, October 31, 2006


Cumprem-se hoje 58 anos que os meus pais se casaram. Se foi um privilégio acompanhar o seu amor, que foi sempre maior do que a vida, é uma lição ver como subsiste, para além da morte. Aos meus pais, o meu carinho, no primeiro aniversário de casamento que não passam, fisicamente, juntos.

Como te amo? Deixa-me contar de quantas maneiras.
Amo-te até ao mais fundo, ao mais amplo
e ao mais alto que a minha alma pode alcançar
buscando, para além do visível dos limites
do Ser e da Graça ideal.
Amo-te até às mais ínfimas necessidades de todos
os dias à luz do sol e à luz das velas.
Amo-te com liberdade, enquanto os homens lutam
pela Justiça;
Amo-te com pureza, enquanto se afastam da lisonja.
Amo-te com a paixão das minhas velhas mágoas
e com a fé da minha infância.
Amo-te com um amor que me parecia perdido - quando
perdi os meus santos - amo-te com o fôlego, os
sorrisos, as lágrimas de toda a minha vida!
E, se Deus quiser, amar-te-ei melhor depois da morte.

Elizabeth Barrett Browning

Esclarecimento do Professor Santana Castilho

A propósito deste meu post: Santana Castilho - verdades duras, recebi, por email, uma mensagem do Professor Santana Castilho, de que reproduzo o corpo relativo ao esclarecimento, que se impõe:
«1. Escrevi uma carta aberta ao Primeiro- Ministro, que foi publicada na edição de 6 de Junho de 2005 do "Público". Junto-a em versão integral.
2. O texto constante do seu blog é uma adulteração do que escrevi, por parte de alguém que, naturalmente, desconheço e se apropriou do meu nome.
3. Não conheço o Senhor Luis Carvalho, a quem não enviei qualquer e-mail, muito menos o texto que me é atribuido.
4. Obviamente que este esclarecimento não pretende ser senão isso, uma vez que é para mim evidente que o Colega actou em perfeita boa-fé.»
Reproduzo, também integralmente, a carta que o Professor Santana Castilho anexou à mensagem:

«Carta aberta ao engenheiro José Sócrates
Santana Castilho*


Esta é a terceira carta que lhe dirijo. As duas primeiras, motivadas por um convite que formulou mas não honrou, ficaram descortesmente sem resposta. A forma escolhida para a presente é obviamente retórica e assenta num direito que o Senhor ainda não eliminou: o de manifestar publicamente indignação perante a mentira e as opções injustas e erradas da governação.
Por acção e omissão, o Senhor deu uma boa achega à ideia, que ultimamente ganhou forma na sociedade portuguesa, segundo a qual os funcionários públicos seriam os responsáveis primeiros pelo descalabro das contas do Estado e pelos malefícios da nossa economia. Sendo a administração pública a própria imagem do Estado junto do cidadão comum, é quase masoquista o seu comportamento. Desminta, se puder, o que passo a afirmar:
1. Do “Statistics in Focus” nº 41/2004, produzido pelo departamento oficial de estatísticas da União Europeia, retira-se que a despesa portuguesa com os salários e benefícios sociais dos funcionários públicos é inferior à mesma despesa média dos restantes países da zona euro.
2. Outra publicação da Comissão Europeia, “L’Emploi en Europe 2003”, permite comparar a percentagem dos empregados do Estado em relação à totalidade dos empregados de cada país da Europa dos 12. E que vemos? Que em média, nessa Europa, 25,6 por cento dos empregados são empregados do Estado, enquanto que em Portugal essa percentagem é de apenas 18 por cento. Ou seja, a mais baixa dos 12 países, com excepção da Espanha. As ricas Dinamarca e Suécia têm quase o dobro, respectivamente 32 e 32,6 por cento. Se fosse directa a relação entre o peso da administração pública e o défice, como estaria o défice destes dois países?
3. Um dos slogans mais usados é o do peso das despesas de saúde. A insuspeita OCDE diz que na Europa dos 15 o gasto médio por habitante é de 1.458 €. Em Portugal esse gasto é ... 758 €. Todos os restantes países, com excepção da Grécia, gastam mais que nós. A França 2.730 €, a Áustria 2.139, a Irlanda 1.688, a Finlândia 1.539, a Dinamarca 1.799, etc.
Com o anterior não pretendo dizer que a administração pública é um poço de virtudes. Não é. Presta serviços que não justificam o dinheiro que consome. Particularmente na saúde, na educação e na justiça. É um santuário de burocracia, de ineficiência e de ineficácia. Mas, infelizmente para o país, os mesmos paradigmas são transferíveis para o sector privado. Donde a questão não reside no maniqueísmo em que o Senhor e o seu ministro das finanças caíram, lançando um perigoso anátema sobre o funcionalismo público. A questão reside em corrigir o que está mal, seja público, seja privado. A questão reside em fazer escolhas acertadas. O Senhor optou pelas piores. De entre muitas razões que o espaço não permite, deixe-me que lhe aponte duas:
1. Sobre o sistema de reformas dos funcionários públicos têm-se dito barbaridades. Como é sabido, a taxa social sobre os salários cifra-se em 34,75% (11% pagos pelo trabalhador, 23,75% pagos pelo patrão). Os funcionários públicos pagam os seus 11%. Mas o seu patrão Estado não entrega mensalmente à Caixa Geral de Aposentações, como lhe competia e exige aos demais empregadores, os seus 23,75%. E é assim que as “transferências” orçamentais assumem perante a opinião pública não esclarecida o odioso de serem formas de sugar os dinheiros públicos. Por outro lado, todos os funcionários públicos que entraram ao serviço em Setembro de 1993 já verão a sua reforma calculada segundo os critérios aplicados aos restantes portugueses. Estamos a falar de quase metade dos activos. E o sistema estabilizará nessa base em pouco mais de uma década.
Mas o seu pior erro, Senhor Engenheiro, foi ter escolhido para artífice das iniquidades que subjazem à sua politica o ministro Campos Cunha, que não teve pruridos políticos, morais ou éticos por acumular aos seus 7.000 euros de salário os 8.000 de uma reforma conseguida com 6 anos de serviço. E com a agravante de a obscena decisão legal que a suporta ter origem numa proposta de um colégio de que o próprio fazia parte.
2. Quando escolheu aumentar os impostos, viu o défice e ignorou a economia. Foi ao arrepio do que se passa na Europa. A Finlândia dos seu encantos baixou-os em 4 pontos percentuais, a Suécia em 3,3 e a Alemanha em 3,2. Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de euros que as empresas privadas devem à segurança social? Por que não pôs em prática um plano para fazer andar a execução das dividas fiscais pendentes nos tribunais tributários e que somam 20.000 milhões de euros? Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais, que em 2004 significaram 1.000 milhões de euros? Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos, que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos? Por que não revogou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento e a iníqua lei que permitiu à PT Telecom não pagar impostos pelos prejuízos que teve...no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de euros de receita fiscal perdida?
A verdade e a coragem foram atributos que Vossa Excelência invocou para se diferenciar dos seus opositores. Quando subiu os impostos, que perante milhões de portugueses garantiu que não subiria, ficámos todos esclarecidos sobre a sua verdade. Quando elegeu os desempregados, os reformados e os funcionários públicos como principais instrumentos de combate ao défice, percebemos de que teor é a sua coragem.

* Professor do ensino superior»

Resta-me apresentar ao Professor Santana Castilho o meu sincero pedido de desculpas, pela reprodução de um documento, que lhe é falsamente atribuído. Admiro os seus artigos de opinião publicados na imprensa, estando o meu apreço sobejamente documentado neste blogue, onde, com frequência, deles me tenho feito eco. Tal constituiria prova bastante da genuína boa-fé com que o meu post foi elaborado, se desta o Professor Santana Castilho tivesse duvidado, o que não foi o caso. Bem-haja por isso.

Monday, October 30, 2006

Não se enganam todos, sempre.

Estas duas notícias, que, numa leitura mais superficial, apenas parecem ter entre si o facto de se debruçarem sobre problemas no sector da educação, revelam que, apesar de serem muito diferentes as situações, as causas acabam por ser as mesmas - uma gestão errática do sistema educativo, assente em pressupostos impressionistas dos governantes e de alguns dirigentes; autismo e dirigismo da governante, não apoiado este em suportes técnicos; visão economicista; falta de respeito para com os administrados.
Um dia, a ministra decidiu que as aulas de substituição são a solução para o insucesso escolar; sem pensar se reuniam as escolas condições para generalizarem, à pressa, tal procedimento, a ME impôs a medida, vendida esta como algo que só não existia por preguiça dos docentes e laxismo das escolas; comprovada a incapacidade de promover, na maioria das escolas, efectivas aulas de substituição, sem o governo abrir os cordões à bolsa, perdeu-se a senhora ME em deambulações filosófico-argumentativas sobre a vantagem da guarda e ocupação dos alunos, associadas estas a tarefas de enriquecimento, que, segundo ela, qualquer adulto facilmente promoveria; o tempo, e as circunstâncias, vieram provar que a ME não tinha razão, devendo a senhora ter vergonha de ouvir agora, dos próprios alunos, a verdade sobre o que são as famigeradas aulas de substituição; como já nos habituou, a senhora chutou o problema para as escolas, dizendo que vai exigir que as aulas de substituição sejam isso mesmo, com qualidade; ela sabe que, sem mais meios, pouco poderão os conselhos executivos melhorar a situação, mas, para já, calou a boca aos manifestantes e sacudiu de cima dos seus próprios ombros o problema que criou. Um "mimo", de competência!
A falta de pessoal auxiliar nas escolas, uma realidade, desde há muitos anos, tem que ter uma abordagem mais corajosa por parte do governo, uma vez que, também aqui, o problema é uma questão de mais recursos financeiros, traduzida em mais recursos humanos a afectar às escolas. Evidentemente que será necessário racionalizar, equilibrando, os quadros de pessoal auxiliar das escolas; é certo que não poderá deixar de haver uma estreita parceria do ME com as autarquias e associações de pais, mas é um facto que, ao mesmo tempo que o campus escolar se torna mais agressivo, no seu interior e na envolvente externa imediata, temos cada vez mais estabelecimentos de ensino fortemente carenciados de pessoal auxiliar, nomeadamente para assegurarem a segurança dos alunos em localizações estratégicas do espaço escolar: pátios e recreios, instalações desportivas, portarias. A situação desta escola não é nova, não é única, não será a mais grave, mas põe a nú como a falta de meios, a falta de planeamento e a falta de diálogo da administração educativa são uma constante do dia-a-dia das nossas escolas.
Estes dois casos são exemplificativos da verdadeira face das dificuldades das nossas escolas, estes são problemas que têm vindo a ser criados fora das escolas, sem que estas detenham o poder de decisão necessário para os resolver, mas exigindo-lhes que os resolvam, ou que, não os resolvendo, pelo menos não tragam as suas consequências para a praça pública. De ambas as notícias importa ainda reter que são os destinatários da propaganda desta ministra aqueles que já acabaram a contestá-la. E ainda a procissão vai no adro!
Meto-me para dentro, e fecho a janela.
Trazem o candeeiro e dão as boas noites,
E a minha voz contente dá as boas noites.
Oxalá a minha vida seja sempre isto:
O dia cheio de sol, ou suave de chuva,
Ou tempestuoso como se acabasse o Mundo,
A tarde suave e os ranchos que passam

Fitados com interesse da janela,
O último olhar amigo dado ao sossego das árvores,
E depois, fechada a janela, o candeeiro aceso,
Sem ler nada, nem pensar em nada, nem dormir,
Sentir a vida correr por mim como um rio por seu leito.
E lá fora um grande silêncio como um deus que dorme.

Alberto Caeiro

"A mais elevada forma de esperança é o desespero superado "*

Considerando a percentagem esperada de mortalidade (acima dos 40%), a reduzida cobertura de vacinas e a inoperância do nosso cada vez mais debilitado sistema nacional de saúde, a perspectiva é aterradora.
* Georges Bernanos

LeActiveMath

Com o sucesso na aprendizagem da matemática a decrescer um pouco por toda a Europa, a nova plataforma interactiva de aprendizagem da matemática, a LeActiveMath, desenvolvida e testada por cientistas europeus, tem como objectivo combater a aprendizagem superficial, envolvendo os estudantes mais activamente no processo de conhecimento. A maior inovação do LeActiveMath é que se adapta às especificidades de cada utilizador, reconhecendo os seus níveis de competência e motivação, assim como, as experiências e conhecimentos adquiridos.

O OE e a confiança dos portugueses - caiu o manto diáfano da fantasia

(Os portugueses) «Quando questionados sobre a sua opinião relativamente às reformas na saúde, educação e administração pública, 47,1% disseram ser negativas, contra 35,9%, que defendem ser positivas. A estratégia orçamental do Governo também recebe nota negativa - 40% dos inquiridos disseram que não concordam com o rumo que tem sido seguido. Mais especificamente, em relação à introdução de uma taxa de internamento nos hospitais, 73,9% dos inquiridos disseram não concordar com a medida, contra 22,3%, que se mostraram a favor. Esta medida tem sido criticada por alguns elementos destacados do PS e a verdade é que os inquiridos que apresentam uma intenção de voto nesse partido também estão, na sua maioria (57,6%), em desacordo com ela. »
Isto, apesar da massiva propaganda do governo. O que seria, se a comunicação social não estivesse a ser encharcada, e a reproduzir, acefalamente, essas doses de propaganda?
ADENDA: No 4R - Quarta República, uma leitura de Tavares Moreira sobre a quebra das expectativas dos portugueses, excelentemente sintetizada nesta sua frase:«É pois muito natural também que, defrontados subitamente com um cenário real que é totalmente oposto àquele que durante meses a fio lhes foi prometido, a generalidade dos nossos concidadãos tenha aquela sensação de “murro no estômago” que é própria de quem se acha enganado em coisa séria.» Aconselha ele o governo a «rever – agora urgentemente – a estratégia de marketing que tem seguido, sob pena de vermos uma vez mais repetida a história do “feitiço que se volta contra o feiticeiro”», mas, para isso, seria necessário termos um governo verdadeiramente ao serviço dos seus concidadãos, o que não é o caso. Temo bem que, com o aproximar das eleições, a propaganda do governo se torne ainda mais agressiva.

«Há quanto tempo se recordam de uma genuína pergunta e de uma genuína resposta do engenheiro Sócrates, fora do mundo da propaganda?»

Sunday, October 29, 2006

Lá, como cá?

Reino Unido - Faith Schools

The fool on the hill - 7

Quase que se consegue vislumbrar uma maçónica impaciência, quando, no rescaldo da azarada semana do governo, António Vitorino aparece a criticar medidas do executivo socialista. Sócrates que leia os sinais, e abrevie a remodelação ministerial.

Saturday, October 28, 2006

Professores passarão a ser contratados pelas escolas

Decidido passo do ME em direcção à escola do tipo empresarial, este. Por enquanto, as escolas só contratarão professores para substituições e para áreas profissionais e vocacionais, mas daqui à generalização do procedimento para todos os docentes será um passo. A Escola no caminho certo? Pelo menos, no caminho da responsabilização.

The fool on the hill - 6

As escolas vão ter cada vez menos recursos humanos, que orçamento oblige. Será uma medida sábia, esta, empenhado que está o governo em introduzir qualidade no sistema educativo, se a máxima de que menos é mais, for de uma universalidade garantida (é?). Esperemos pela avaliação, dentro de uns anos, e depois, ou fazemos uma estátua a Maria de Lurdes Rodrigues, ou... o quê? Ainda nenhum governante foi responsabilizado por ter deixado este país de pernas para o ar, pois não? Este governo, tão reformista, não deverá deixar de mexer também nessa escandalosa impunidade!!!

Sindicatos de professores - falem menos, pensem mais. Pela calada!

O que dizem os sindicatos que exige o ME? Não há interrupções de Natal, Carnaval e Páscoa para os professores, devendo as escolas manter-se abertas para guarda dos seus alunos. Isto é novo? Não inteiramente. Os professores já não tinham férias nestes períodos, comparecendo nas escolas para reuniões e trabalhos preparatórios vários. A novidade passa a ser terem que fazer guarda aos alunos. E qual é o problema? Sendo professores, de determinado grupo profissional, com um conteúdo funcional bem determinado, os profissionais em causa, sendo obrigados à guarda, assegurá-la-ão nos termos dos seus direitos e deveres profissionais - dando aulas aos alunos presentes. Isto implica que estes alunos não terão férias? Azar o deles, que têm famílias que não encontram outras tarefas de ocupação das suas crianças. Quanto aos docentes, com este princípio de trabalho contínuo ao longo do ano civil, deverão exigir, contrariamente ao que agora se passa, poder gozar o seu período de férias em qualquer momento do ano, inclusive em período lectivo. Com isto, ficam assegurados os direitos dos docentes e satisfeitos os interesses e conveniências das famílias.
Outro aspecto em que os sindicatos não estão a ver bem a coisa é na exigência do ME de que os professores passem a dar 8 horas lectivas num dia. E por que estranha razão não pode ser? Porque dar aulas é uma tarefa específica, muito pesada? Porque o professor tem que dar sempre o seu máximo, a cada tempo lectivo, com cada turma? Porque o professor não pode fazer como qualquer outro funcionário, isto é, interromper para um café, para ir à casa de banho, para esticar as pernas, dar uns dedos de conversa, ou, simplesmente, tirar umas horitas para ir tratar de um assunto? Trate-se a situação como ela se apresenta - tratado o professor como um outro qualquer funcionário, exija e use dos mesmos direitos de todos os outros. Sanções por isso? Recorra-se para as entidades competentes para a regulação da aplicação de direitos constitucionais e profissionais, e logo se verá o que acontece.
Francamente, os sindicatos têm muito a aprender com esta ministra. Para tutela inflexível, classe docente cumpridora, mas inflexivelmente cumpridora nos estritos limites das suas competências, no pleno uso dos seus direitos. Assim, vamos lá. E o próximo ministro, que virá para "amaciar" os estragos desta, não deixará de apreciar a estratégia!
O resultado para os alunos? Não será, decerto, com medidas destas que se melhora a educação neste país, mas talvez tenha chegado o tempo de demonstrar isso mesmo.
ADENDA: Afinal, o ME não pretende acabar com as pausas do Natal, Carnaval e Páscoa, houve um abuso interpretativo dos sindicatos, a partir da última versão do ECD, que receberam do governo e em que os artigos os artigos 91º, 92º e 93º do ECD apareciam revogados. "Redundância", foi a justificação dada pela tutela para a retirada desses artigos. Cá para mim tenho que foi (mais uma) casca de banana aos sindicatos, e estes cairam como uns patinhos.

Fama de casal

Insurge-se Pacheco Pereira contra o facto de o jornal Expresso ter feito uma notícia sensacionalista sobre a adesão do "casal" Sócrates à campanha do sim, na questão do aborto. Subscrevo toda a argumentação de Pacheco Pereira, o que não me impede de me interrogar se a notícia não terá sido induzida, para aparecer nos exactos termos em que apareceu. A leitura que JPP faz, sendo justa na sua indignação, parece esquecer uma possibilidade - a de que a qualquer dos elementos do "casal" Sócrates lhes pode interessar aparecer à opinião pública como isso mesmo, um casal. O preço que teriam de pagar por isso, em termos de exposição e intromissão mediática, não seria, nesse caso, demasiado elevado. Direi, até, que a incomodidade seria vista com gratificante tranquilidade.

Falta de graça?

Como diz Pedro Magalhães, uma sondagem é uma sondagem. Mas, se com duas semanas de contestação nas ruas, com uma comunicação social, que começa agora a sacudir o torpor em que tem estado mergulhada, e com o maior partido da oposição a definhar sob a batuta displicente de Marques Mendes, Sócrates cai 16 pontos, parece evidenciado que as coisas começam a não correr nada bem para o autoritário primeiro-ministro. Que talvez recupere da queda, mas só por falta de comparência dos seus opositores mais directos.

Tuesday, October 24, 2006

Santana Castilho - verdades duras

No blog de Luís Carvalho - Instante Fatal - publica-se uma carta aberta ao engenheiro Sócrates, da autoria de Santana Castilho. A carta, duríssima, é uma extraordinária síntese das etapas de desertificação política e social, que está a ser conscientemente posta em prática por este governo.
Desta notável peça crítica, cuja leitura integral vivamente se recomenda, destacam-se estas perguntas dirigidas a Sócrates:
«...fala em austeridade de cátedra, e é apologista juntamente com o presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo, da implosão de uma torre ( Prédio Coutinho ) onde vivem mais de 300 pessoas. Quanto vão custar essas indemnizações, mais a indemnização milionária que pede o arquitecto que a construiu, além do derrube em si? Por que não defende V. Exa a mesma implosão de uma outra torre, na Covilhã ( ver ' Correio da Manhã ' de 17/10/2005 ) , em tempos defendida pela Câmara, e que agora já não vai abaixo? Será porque o autor do projecto é o Arquitecto Fernando Pinto de Sousa, por acaso pai do Senhor Engenheiro, Primeiro Ministro deste país?Por que não optou por cobrar os 3,2 mil milhões de Euros que as empresas privadas devem à Segurança Social ?Por que não pôs em prática um plano para fazer a execução das dívidas fiscais pendentes nos tribunais Tributários e que somam 20 mil milhões de Euros ?Por que não actuou do lado dos benefícios fiscais que em 2004 significaram 1.000 milhões de Euros ?Por que não modificou o quadro legal que permite aos bancos , que duplicaram lucros em época recessiva, pagar apenas 13 por cento de impostos ?Por que não renovou a famigerada Reserva Fiscal de Investimento que permitiu à PT não pagar impostos pelos prejuízos que teve no Brasil, o que, por junto, representará cerca de 6.500 milhões de Euros de receita perdida