Monday, December 31, 2007

Feliz Ano de 2008


Antologia

Lembrança

Ponho um ramo de flores
na lembrança perfeita dos teus braços;
cheiro depois as flores
e converso contigo
sobre a nuvem que pesa no teu rosto;
dizes sinceramente
que é um desgosto.

Depois,
não sei porquê nem porque não,
essa recordação desfaz-se em fumo;
muito ao de leve foge a tua mão,
e a melodia já mudou de rumo.

Coisa esquisita é esta da lembrança!
Na maior noite
na maior solidão,
vem a tua presença verdadeira,
e eu vejo no teu rosto o teu desgosto,
e um ramo de flores, que não existe, cheira!

Miguel Torga

Ai que saudades!


Alguém me diz que está a passar o ano numa praia, e é quanto basta para perceber a falta que me faz o mar da minha infância! Sinal de que esta está cada vez mais longe...

Monday, December 10, 2007

Oprah Winfrey vende o seu "sabonete"



Oprah Winfrey usa todo o seu peso mediático e a sua enorme influência no apoio a Barack Obama, apoio traduzido em milhões de dólares angariados e dezenas de milhares de participantes arrastados aos comícios, para verem ao vivo a diva do talk show. Fosse oponente outro que não a loira senhora Clinton e, a constituir-se como mais um sucesso para uma das mulheres mais influentes do mundo, os Estados Unidos da América acordariam com um presidente negro, pela primeira vez na sua história. Assim, e muito devido à utilização que o marido resolveu dar à sala oval, Obama terá de ficar para mais tarde, depois da senhora Clinton.

Violência nas escolas*

Como sempre, a ministra desvaloriza os números, amarrota-os na irrelevância da parte face ao todo, rejubila com a fabricada diminuição (?) de incidências, passa à frente. No terreno, fica o dia-a-dia amargurado de milhares de professores sujeitos à humilhação diária da desobediência, do insulto, da ameaça verbal, da agressão física. Para além dos militares e das forças policiais e militarizadas, dos seguranças profissionais e dos mafiosos encartados, que outros profissionais além dos professores enfrentam o dia de trabalho com risco real da própria segurança física? Enquanto não houver uma corajosa resposta a esta pergunta, não me venham com tretas de avaliação dos professores.
* ou de como 300 casos em 2007 são 300 razões para pedir contas ao governo.

Backbiting (6)


David Beckham, lesionado num joelho, factura até a repousar, tornando-se modelo de roupa interior para o Emporio Armani. O rapaz pode já não ter pernas para os relvados, mas ainda tem uma bela carreira pela frente com o resto do corpo!

José Mourinho auto-excluiu-se


É pena, teria sido bonito de ver!

Cimeira UE/África - e depois do adeus

Não vale a pena repetir o que outros, mais talentosos, já escreveram, melhor do que o faríamos.
Sobre a vergonhosa e acéfala cobertura do evento pelos media, basta ler o Abrupto e o Portugal dos Pequeninos, para nos sentirmos acompanhados no asco pelo show que nos foi servido.
A vergonha que sentimos por esses profissionais de vão de escada, essa não a partilhamos, certamente, com todos aqueles que leram jornais e viram televisão a pensarem nas compras de Natal e nas peripécias da Liga, todos muito muito reconfortados pela imagem de Portugal que Sócrates nos vem vendendo, imagem inventada que verá as luzes da ribalta internacional na campanha de promoção, que arranca na esteira do Tratado de Lisboa.
A náusea que constitui ouvir o recorrente auto-elogio de Sócrates, a propósito de tudo e de nada, transforma-se em vómito, quando, transportado nas asas da sua demencial auto-satisfação, o Primeiro-ministro português lança ao tapete, no rescaldo da Cimeira, um “espírito de Lisboa” a que, só por uma réstia de pudor, não se atreveu a dar o próprio nome.
Mais do que os discutíveis resultados da Cimeira, cujo sucesso se decidirá, em grande medida, pelas decisões de Pequim, os portugueses deveriam reter a forte mensagem que o auto-contentamento exacerbado de Sócrates revela: se de génio tem pouco, já de louco…

Saturday, December 08, 2007

Antologia

At the last minute a word is waiting
not heard that way before and not to be
repeated or ever be remembered
one that always had been a household word
used in speaking of the ordinary
everyday recurrences of living
not newly chosen or long considered
or a matter for comment afterward
who would ever have thought it was the one
saying itself from the beginning through
all its uses and circumstances to
utter at last that meaning of its own
for which it had long been the only word
though it seems now that any word would do

W.S. Merwin



E por falar do banquete da Cimeira UE/África...

...até fiquei com pele de galinha com o racismo latente que as várias reportagens televisivas acabaram por denunciar. Nem os patrões, nos tempos áureos da colonização, conseguiam ser mais condescendentes com o folclore das festas dos seus contratados. Elucidativo!

Protocolo de Estado

Mugabe chegou tarde ao banquete oferecido pelo PR, poupando este e Sócrates a recebê-lo à porta do Palácio da Ajuda. Negociação bem conduzida pelo Protocolo de Estado? Parece, ou Mugabe revela uma diplomacia que não confere com a imagem que temos dele!

Entre iguais!

Sócrates sentiu-se assim entre um elevado número de líderes africanos que, pelos nossos padrões, podem ser considerados corruptos e ditadores. Caiu o Carmo e a Trindade entre a portuguesa gente! Francamente, não percebo porquê. Se Sócrates se classifica assim a si próprio, quem sou eu para o contrariar?

Backbiting (5)

Mariza e Cesária Évora a ilustrarem o momento cultural da Cimeira UE/África? Até parece um daqueles banquetes em que, dos aperitivos à sobremesa, tudo o que é servido leva natas. Bem sei que Mariza é a fadista do regime; todos vemos que ela tem o cabelo mais louro do que um viking da idade do gelo (Freud explicaria!), mas não haverá por aí outra fadista para representar a caucasiana Europa? É que para ilustrar os caminhos da cooperação (?) europeia com a negritude, Cesária chega e sobra.

Thursday, December 06, 2007

O jogging em inglês técnico

Quando o nosso Primeiro vai em visitas oficiais, é fatal como o destino, é vê-lo em equipamento Nike a dar à perna por avenidas fechadas, em deferência pelo seu prazer em correr em terra alheia, debaixo das objectivas dos paparazzi de ocasião.
Por cá, no dia-a-dia da santa terrinha, o mais que se lhe vê correr é a língua, quando, no hemiciclo do Parlamento, em cima dos delicados sapatinhos Prada, desanca os papalvos da oposição, que o votito popular lá colocou, como figurantes de luxo. No nosso cinzento quotidiano, bem podemos vasculhar a capital à procura de tão ilustre corredor de fundo, que o homem não põe os pés nas lusas vias, a não ser que evento popular o estimule, a bem dos flashes que piscam o olho ao voto popular, que, com tal proeza, visa conquistar.
Pois aqui fica um pedido - pelo menos que não termine a presidência portuguesa sem que o Primeiro engenheiro (?) dê um ar da sua graça, em calções da nova colecção Nike. Pode aproveitar a Cimeira EU/África para uma suada estafeta entre a tenda de Kadaphy e o Parque das Nações, ou a assinatura do Tratado, para uma meia maratona entre São Bento e os Jerónimos. Vá lá, nós merecemos, se não os tugas todos, pelo menos aqueles que votaram em si e que não devem ser apreciadores de outro esforço que não o de pernas, ou não estaríamos entregues a tão desportiva gente!

Cimeira UE/África

Para tudo ficar na mesma, eleva-se a irrelevância à mesa das negociações e serve-se fria. Darfur? Zimbabwe? Sida? Fome? Corrupção? Direitos Humanos? Bah, não estraguem a foto de família, por favor.
Entre tendas das mil e uma noites, banquetes e reuniões de alto nível nas suites dos hotéis de muitas estrelas, ninguém se atreve a dar o tempo por perdido. E, afinal, o que são dez milhões de euros para os depauperados cofres portugueses? Perdido por cem, perdido por mil, vai daí o governo faz como as famílias endividadas, foge em frente. Tudo acaba como começou, Sócrates respira de orgulho e africanos e europeus partem felizes. Volta tudo ao seu lugar.

Broken Mirrors

«All we have to decide is what to do with the time that is given to us. »
J.R.R. Tolkien

Backbiting (4)

A generosidade de Angelina Jolie não tem limites. Como podemos comprovar pela foto, tem levado muito a sério a preparação para a campanha contra a anorexia, que vai protagonizar. O que se sabe: o Pitt não está a gostar nada de tamanho "profissionalismo" da companheira; o que não se sabe: se a celebridade vai ganhar o seu peso em dólares. Pela amostra junta, ficará a ganhar se lhe pagarem a conta do médico.

Backbiting (3)



Jonathan Rhys Meyers, catapultado para a fama planetária pela sua interpretação de Henrique VIII, foi preso no aeroporto de Dublin por excesso de álcool e má conduta. Nada que nos admire, neste rapaz. Acontece que o actor, com um donativo simbólico para uma associação de caridade, conseguiu que o tribunal deixasse cair as queixas contra si, mandando-o em paz e liberdade. Saído bem desta, espera-se que o irrequieto actor se emende? Nem o espírito natalício nos pode levar a tais extremos de ingenuidade!

Dupond e Dupont

Gostei de ver Ângelo Correia no frente-a-frente com Luís Fazenda. E gostei, porque o representante do BE, engolidos os escrúpulos e a vergonha às colheradas empurradas por Sá Fernandes, deu a mão, o pé, e sabe-se lá mais o quê, a António Costa, para tentar justificar a negociata dos 500 milhões. Mas gostei, sobretudo, por constatar que o veterano político do PSD consegue ser tão contorcionista, palavroso e vazio como o governo Sócrates. Acenda-se, pois, a réstia de esperança que os bonzos do PS clamam faltar à lusa gente, agastados que estão com o rumo que o nosso Primeiro engenheiro (?) anda a dar a esta desgraçada nação, mas sem coragem para dizer que esperança é o melhor eufemismo que conseguem arranjar, quando pensam no que nos falta. E como a prestação televisiva do ajudante de Menezes deixou claro, não foi apenas para tratar dos negócios que se afastou da política, pois ficou evidente que só quando esta atingiu o ponto certo de trampolinice e opacidade é que o insigne empresário, qual valente rabejador, saiu a ajudar à lide de cernelha do autarca de Gaia. Sócrates que se cuide, que já temos politiqueiros para a troca, e ao povo pode apetecer mudar as moscas, sabendo que o resto fica igualzinho.

Jorge Pedreira, o soldadinho de chumbo

Continuando na senda do posicionamento de Portugal nos rankings mais variados, dos quais nós, o povo inculto e maledicente, seleccionamos sempre os que nos são menos favoráveis, olhemos para os resultados do Pisa 2006, que nos colocam abaixo da média nos indicadores de performance dos alunos portugueses - 37.º lugar entre 57 países e um desempenho abaixo da média nas ciências, conhecimento da língua e matemática.
Como reage o governo? Como é habitual, começa por relativizar o desastre relembrando que estamos muito bem acompanhados por alguns “grandes” na tabela inferir à média: Estados Unidos, Rússia, Itália, Noruega, Espanha, Luxemburgo; visto assim, já fazemos parte de um grupo de elite! Mas, desta vez, a equipa governativa da educação, já useira e vezeira em fazer pouco do povinho bruto e ignaro, vai mais longe e, pela voz do autorizado secretário de estado Pedreira, faz o diagnóstico e aponta a terapêutica: a culpa de tão baixo nível reside no exagerado número de retenções, que as escolas portuguesas continuam a praticar. Malandros e ignorantes, os professores, que assim ameaçam o futuro das brilhantes criancinhas e põem em causa o bom nome da pátria inteligência! Há que acabar com a maldição das retenções!
Para nos animarmos, e recobrarmos a esperança nos próximos Pisas, pensemos um pouco – este governo acabou com os chumbos por faltas; entretanto, prepara-se para acabar com os chumbos, de todo; pelo meio, conseguiu associar a avaliação dos docentes aos resultados dos alunos; acompanha estas medidas de secretaria com um discreto, mas contínuo, abaixamento dos níveis de exigência na qualidade e na quantidade dos conteúdos programáticos; coroa tão belas práticas, com uma acautelada “preparação” dos exames, para que os resultados destes contrariem as estatísticas da desgraça, e injectem esperança na alma lusa. Depois de tão concertadas medidas, alguém duvida que, dentro de uns anitos, poucos, estejamos a subir lugares na tabela como o João Garcia sobe aos tectos do mundo? Eu não duvido, antes tenho a certeza! Só que, contrariamente ao João Garcia, coitado, que perdeu o nariz nas gélidas aventuras montanhistas, o nariz do governo crescerá, tanto, tanto, que deixaria mudo de espanto o próprio Gepetto! Finalmente, ficaremos todos felizes! Cada vez menos sábios, mas felizes, a bem da nação!

Wednesday, December 05, 2007

PS e PSD chegaram a acordo na CML*

«Politics is the art of looking for trouble, finding it everywhere, diagnosing it incorrectly, and then applying the wrong remedies
Groucho Marx

* alguém acreditaria que seria diferente?

Antologia

Come back often and take hold of me,
sensation that I love, come back and take hold of me
when the body's memory revives
and an old longing again passes through the blood,
when lips and skin remember
and hands feel as though they touch again.

Come back often, take hold of me in the night
when lips and skin remember...

Constantine P. Cavafy

E por falar no Eurostat...

É certo que se enganou na taxa de desemprego - imperdoável! - mas a correcção do engano não nos colocou em melhor posição do que aquele honroso terceiro lugar a contar do fim da lista dos 27 parceiros europeus! A Eslováquia e a Polónia conseguem vencer-nos na corrida ao fim da lista dos que fazem do desemprego um objectivo a alcançar, mas com mais um esforçozinho e chegamos lá! Ai chegamos, chegamos.

Só pode ser mentira!

O Eurostat não é muito popular aqui pelas lusas praias, e, depois do engano de ontem com o desemprego, nem é muito credível, governo dixit. Apesar disso, o organismo europeu não foi desmentido pelo inquilino de São Bento, quando veio dizer que Portugal ocupa o penúltimo lugar da zona euro no que diz respeito ao acesso à Internet, superando apenas a Grécia. E esta, hem? Tanto blábláblá tecnológico, computadores às pazadas para dentro das escolas, mais o Zorrinho e sus muchachos, o governo que apregoa o choque tecnológico como a redenção de todos os males por que nos faz passar, e, vamos a ver, a pífia realidade é esta. E Sócrates não desmente? Será porque o inglês técnico não lhe chega para tanto?

Backbiting (2)

Fascínio não foi o que senti, quando “zappei” a nova novela da TVI. Com algum espanto, confesso, percebi que a outrora apetitosa Alexandra Lencastre feneceu a velocidade galopante. Seria ainda mais penoso vê-la a representar uma beleza sensual e aventureira, não se desse o caso de estar a fazer par romântico com um avelhado e balbuciante João Perry. Terá sido para disfarçar que os “embrulharam” no esplendor de Goa?

Backbiting (1)


Longe vão os tempos (1991) em que a revista People a elegeu uma das 50 pessoas mais belas do mundo. Aos 49 anos, sem a preciosa ajuda dos milagreiros de imagem, Madonna está um “caco”. De facto, os últimos instantâneos da senhora desfazem, impiedosamente, o mito do glamour, e deixam dúvidas acerca da propalada boa forma física da cantora. Repare-se nos olhos doentios atrás de óculos protectores, no ar abatido e, sobretudo, no enorme envelhecimento que as esqueléticas mãos e os cadavéricos braços denunciam.

Um Rei é um Rei, é um Rei, é um Rei!*

Por falar no ditador da Venezuela, com um (quase) empate técnico, 51% para o não e 49% para o sim, Chávez perdeu o referendo à revisão Constitucional, mas, se perdeu uma batalha, ficou mais próximo de ganhar a guerra. Podem alegrar-se os optimistas com a primeira derrota do dictatore, que eu apenas oiço dobrar os sinos pela morte anunciada do simulacro de democracia que Chávez encena no palco mundial. Que caia o manto da fantasia.
* ou a diferença entre Juan Carlos de Borbón e Mário Soares

Tuesday, December 04, 2007

Camarate forever*

Faz hoje 27 anos que morreu Sá Carneiro, e os saudosistas da personagem insistem em imaginar o que seria Portugal se não tivesse havido Camarate. Podemos repetir o exercício com variadas figuras da nossa história, que ficamos exactamente na mesma, isto é, com Sócrates em São Bento, o povo a gemer e o país a fenecer. Para os muito desesperados com esta triste realidade, aceita-se, a modos de terapêutica, que se dêem ao luxo de imaginar o que teria acontecido se D. Afonso Henriques tivesse morrido no ventre materno. A cura adivinha-se imediata, com a perspectiva de um Rei com coragem suficiente para mandar calar o ditador da Venezuela. E viva España!
* ou de como James Dean estava coberto de razão.